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2009-11-19

An Internacional da Astronomia - Dia 324 "Brasão da Vila de Mourão"

Félix Rodrigues

Desconhecem-se as origens históricas da primitiva vila de Mourão, apenas se sabe que se situava junto do Guadiana, local onde ainda há uma dezena de anos se encontravam algumas paredes. As razões do abandono da Vila Velha e da sua fixação, onde se situa actualmente Mourão, estão bastantes intrincadas pelas lendas.
O primeiro brasão de armas da vila de Mourão ficou lavrado na própria pedra que comemora o começo das obras da construção do seu castelo, no ano de 1343, no reinado de D. Afonso IV, que ainda hoje se pode ver. Tem as armas de Portugal, cinco escudetes apontados ao centro com cercaduras de 12 castelos, ostentando no interior em ponta, um sol à direita e um crescente à esquerda.
No decorrer dos tempos as primitivas armas de Mourão perderam a cercadura de castelos das armas de Portugal, ficando as restantes peças heráldicas com a seguinte constituição, metais esmaltes e cores: em campo azul cinco escudos de prata com as quinas postas em cruz apontadas ao centro, tendo o escudo inferior a seu lado direito um sol radiante antropomorfo de ouro e ao esquerdo um crescente (apesar da Lua se situar em quarto minguante) antropomorfo de prata, (ver imagem seguinte).


O crescente lembra a conquista aos Árabes e o sol a entrada na Cristandade. Essas foram as armas de Mourão na Monarquia Portuguesa, durante quase sete séculos.
O actual brasão (Camarário) de Mourão tem um escudo azul, com um castelo em ouro, lavrado, aberto e iluminado de negro; em chefe um escudete de prata com as quinas de Portugal, entre um sol de ouro e um crescente prata.
Assim Mourão tem dois Brasões: o Histórico que se pode ver impresso em muitos dicionários e enciclopédias; e o camarário que se encontra no seu estandarte actual. Na figura seguinte apresenta-se o brasão actual de Mourão.
Na idade média criaram-se mistérios masculinos e femininos. Para a mulher a maternidade, a comunhão com a flora, entre outros. Para o homem, a caça, a guerra ou a comunhão com a fauna. A mulher regida pela Lua; o homem, pelo Sol. Porém, para recriar os ciclos da Natureza, o princípio feminino e masculino juntavam-se: diferentes, porém complementares como se ilustra na imagem seguinte.

O sol e lua, eram vistos como dois astros completamente diferentes, já que um se via durante o dia e o outro quase exclusivamente de noite. Na maioria dos desenhos alquímicos estes dois astros, com representações antropomórficas fazem alusão aos opostos.
O Sol e a Lua também simbolizam o homem e a mulher: opostos tanto em termos psicológicos como morfológicos , apesar de gravitarem em concordância.
No livro medieval “A glória do mundo” de Roberto Valensis, afirma-se que o sol e a lua devem copular como um homem e uma mulher, pois de outro modo não poderiam conseguir resultados na alquimia.
Na heráldica, a presença do Sol e da Lua também indica força e poder permanentes, de dia e noite e para todo o sempre.
O Sol e a Lua estão presentes em muitos brasões de cidades portuguesas bem como em muitas cidades fundadas pelos portugueses.

2009-11-18

Ano Internacional da Astronomia - Dia 323


Meteorito marciano que atingiu a Terra.

Ano Internacional da Astronomia - Dia 322 "Brasão da Vila de Mafra"

Isabel Neves e Félix Rodrigues

Mafra é uma vila portuguesa do Distrito de Lisboa, região de Lisboa e subregião da Grande Lisboa, com cerca de 11 300 habitantes.
É sede de um município com 291,42 km² de área e 66 453 habitantes (2006), subdividido em 17 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Torres Vedras, a nordeste por Sobral de Monte Agraço, a leste por Arruda dos Vinhos, a sueste por Loures, a sul por Sintra e a oeste tem litoral no oceano Atlântico. Mafra é famosa pelo seu palácio-convento, mandado construir por D. João V no século XVIII e que constitui a mais grandiosa obra do barroco português.
Formada por dois núcleos habitacionais, a Vila Velha, constituída ao redor do antigo castelo, e a Vila Nova, desenvolvida à sombra do Convento, Mafra é sede de concelho e de comarca. Conquistada aos Mouros em 1147, recebeu foral em 1190.
Vestígios arqueológicos sugerem que o povoado hoje denominado por Mafra foi habitado pelo menos desde o Neolítico. A origem do termo Mafra continua envolta em mistério, sabendo-se apenas que evoluiu de Mafara (1189), Malfora (1201) e Mafora (1288).
Alguns autores encontraram na sua origem o arquétipo turânico Mahara, a grande Ara, vestígio de um culto de fecundidade feminina outrora existente no aro da vila. Outros, radicaram o nome no árabe Mahfara, a cova, na presunção de que a povoação se encontrava implantada numa cova, facto desmentido pelo reconhecido arabista David Lopes. A vila está, isso sim, situada numa colina, cercada por dois vales onde correm as ribeiras conhecidas por Rio Gordo e Rio dos Couros.
Certo também é que Mafra foi uma vila fortificada, podendo ainda hoje encontrar-se, na Rua das Tecedeiras, um pouco da muralha que a cercava.
Os limites do castelo, que tudo leva a crer assenta sobre um povoado neolítico, sucessivamente reocupado até à Idade do Ferro, compreendiam toda a zona da "Vila Velha", que hoje se inclui no espaço delimitado a Oriente pelo Largo Coronel Brito Gorjão, a Sul pela Rua das Tecedeiras, a Ocidente pelo Palácio dos Marqueses de Ponte de Lima e a Norte pela Rua Mafra Detrás do Castelo. A designação desta rua deve-se ao facto de a povoação ter voltado, literalmente, as costas ao flanco norte, por ser o mais exposto aos ventos. A densa floresta que, consta, existiu até ao século XIX na Quinta da Cerca, constituída por árvores de grande porte, reforçaria o paravento.
Em 1147, Mafra é conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques, e em 1189 a vila é doada pelo Rei D. Sancho I ao Bispo de Silves, D. Nicolau, que no ano seguinte lhe confere o primeiro foral.
Em 1513 o Rei D. Manuel concede Foral Novo a Mafra, o que subentende a relativa importância da vila, que em breve diminuiria drasticamente. Um censo da população datado de 18 de Setembro de 1527 apura 191 vizinhos, dos quais apenas quatro vivem em casais na vila. Quando, em 1717, o Rei D. João V lança a primeira pedra da construção do Palácio, Mafra resumia-se a uns casarios, aglomerados a centenas de metros do Monumento. Em Agosto de 1787, William Beckford escreverá: "É pouco interessante a perspectiva que se goza do adro da Basílica. O que se vê são os telhados de uma aldeia insignificante e uns cabeços de areia, destacando sobre uma estreita faixa de oceano. Da esquerda a vista é limitada pelos escarpados montes de Sintra e à direita, um pinhal, na quinta do Visconde de Ponte de Lima, é que dá aos olhos algum refrigério".
Ao longo do século XIX começou a povoação a crescer em direcção ao Monumento, embora o seu aspecto rural de vila saloia só tenha sido perdido no século XX, como provam as palavras de José Mangens, em 1936, ao descrever a antiga Rua dos Arcipestres, parte dela actual 1º de Maio: "(.) nada oferece de interessante e mais parece uma vila de aldeia sertaneja, com os seus casebres arruinados e típicos portais de quintais, blindados com latas velhas (.)".
A invasão das tropas francesas de Napoleão em 1807 e a fuga do Rei D. Manuel II para o exílio em 1910 foram episódios que agitaram a vida desta vila nos últimos séculos.
Corria o dia 8 de Dezembro de 1807 quando as tropas de Napoleão entraram em Mafra para montar quartel-general no Palácio. Parte do exército seguiu para Peniche e Torres Vedras, enquanto o restante ficou aquartelado no Palácio e Convento, e os oficiais nas casas da vila, sob o comando do General Luison.
A invasão duraria cerca de nove meses. No dia 2 de Setembro o exército inglês irrompia em Mafra, saudado com grande alegria pela população e ao som dos carrilhões.
A 5 de Outubro de 1910 de novo o povo de Mafra viveria um dia único. A revolução republicana estalara na véspera em Lisboa, o Rei D. Manuel II refugiara-se durante a noite no Palácio e abandonava Mafra, num automóvel escoltado, acompanhado da sua mãe e avó, rumo à Ericeira, onde o Iate D. Amélia os conduziria a Gibraltar e ao exílio.
Volvidos quatro anos sobre a fuga de El-Rei, novo sobressalto em Mafra: no dia 20 de Outubro, um grupo de monárquicos reuniu-se no largo D. João V e, munido de algumas armas, encaminhou-se para a Escola Prática de Infantaria, instalada no Convento, depois de cortar os fios telefónicos e telegráficos. A revolta foi facilmente anulada pelos militares, acabando na cadeia de Mafra cerca de uma centena de pessoas.
Desde a construção do Monumento que os militares conferem parte do ambiente humano à Vila de Mafra.
Como descreve Guilherme José Ferreira de Assunção, em "À Sombra do Convento...", após as primeiras visitas de D. Maria II à vila de Mafra foi reconhecida a vantagem da instalação de um corpo militar no Convento, "o que não demorou a acontecer e o que conseguiu transformar a vida da população, até aí arrastada e em precárias condições de existência".
A partir de 1840 o Convento passou a ser ocupado por tropa, e em 1859 cerca de quatro mil recrutas ali assentaram praça para receber instrução no Depósito Geral de Recrutas, criado por D. Pedro V. Esta instituição seria extinta no ano seguinte, após 94 recrutas terem falecido supostamente devido a doença infecto-contagiosa. De 1848 a 1859, e de 1870 a 1873 o Convento alberga o Real Colégio Militar.
Em 1887 é criada a Escola Prática de Infantaria e Cavalaria e no ano seguinte é construída, na Tapada, a carreira de tiro, de que passou a ser frequentador o Rei D. Carlos, entusiasta dos concursos de tiro. Em 1896 é criada a Escola Central de Sargentos, dependente da Escola Prática de Infantaria.
Em 1911 é fundado o Depósito de Remonta e Garanhões, que dá lugar, em 1950, à Escola Militar de Equitação e sete anos mais tarde ao Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos.
Hoje continua a funcionar o agora denominado (desde 1993) Centro Militar de Educação Física e Desportos, no Largo General Conde Januário, e a Escola Prática de Infantaria, no Convento de Mafra.
O Brasão da Vila de Mafra é constituído por um escudo vermelho, com uma torre de ouro aberta e iluminada de esmalte do campo e carregada por uma cruz de Aviz, de verde. A torre acompanhada por dois crescentes de prata. Coroa mural de prata, de quatro torres. Listel branco com os dizeres «Vila de Mafra», de negro.
O esscudo Vermelho tem o significado de guerreiros, militares bem sucedidos em guerras, a torre a generosidade no servir à Pátria e ao seu rei, a Cruz de Avis - cruz florida (i e. com braços que terminam em florões) com a particularidade heráldica de serem encurtadas as pétalas centrais dos florões e aproximadas as laterais aos braços para representação da inicial «M» de Maria, padroeira da ordem, como a da ordem de Calatrava que a originou, a cruz de Avis pode ser descrita como terminada por quatro letras «M», opostas duas a duas.
À semelhança de outros municípios portugueses, Mafra tem dois crescentes no brasão e bandeira. Também se encontram dois crescentes, em forma de U, nos brasões de Alverca do Ribatejo e Vila de Borba, entre outros, e dois crescentes presentes no brasão da Cidade de Queluz, mas em forma de C.

2009-11-16

Ano Internacional da Astronomia - Dia 321


Novas estrelas na nuvem de Ofiuco.

2009-11-15

Ano Internacional da Astronomia - Dia 320


Centro da nossa galáxia.

2009-11-14

Ano Internacional da Astronomia - Dia 319


Arte e Ciência na galáxia 918.

2009-11-13

Ano Internacional da Astronomia - Dia 318


Galáxia NGC 2623.

2009-11-12

Ano Internacional da Astronomia - Dia 317 "Brasão da Vila de Celorico da Beira"

Isabel Neves e Félix Rodrigues

O concelho de Celorico da Beira localiza-se na vertente norte da Serra da Estrela, entre os concelhos de Fornos de Algodres (a oeste), Gouveia (a sul), Guarda (a este) e Trancoso (a norte). Situado na província da Beira Alta, distrito da Guarda, este concelho possui 22 freguesias e 24 anexas numa área total de 249,93 quilómetros quadrados. Tem uma população entre 7000 e 8000 habitantes.
O rio Mondego, que nasce na Serra da Estrela e termina na Figueira da Foz, tem um percurso de 227 km, 22 dos quais neste concelho. Para além da própria vila, as suas águas banham as freguesias de Açôres, Lageosa, Ratoeira, Baraçal, Forno Telheiro e Jejua. Curiosamente, o seu percurso divide o concelho ao meio.
A vila de Celorico da Beira situa-se na margem esquerda do rio Mondego, na vertente setentrional da Serra da Estrela, a uma altitude de cerca de 550 m. A posição estratégica da vila é acentuada pelo rio, uma vez que a circunda a leste, norte e oeste, permitindo-lhe desfrutar de uma favorável defensibilidade natural.
O brasão de Celorico da Beira é constituído por um escudo de negro, com um castelo de duas torres, de ouro, aberto e iluminado de vermelho, encimado por uma águia voando, de sua cor (mas na bandeirola e no galardão, essa água tem cor amarela, provavelmente relacionado com problemas de reprodução), realçada de prata (que na bandeirola e galardete aparece realçada de preto), tendo nas garras um peixe de prata. Em chefe um crescente de prata tendo dentro uma estrela de oito raios do mesmo metal, acompanhado o crescente por quatro estrelas de prata de oito raios, dois de cada lado em pala. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com a legenda de negro : " VILA DE CELORICO DA BEIRA ".
O escudo negro nesse brasão simboliza a terra, a águia, a generosidade ou magnitude e as estrelas, a constância no serviço ao soberano. A Prata do peixe é o metal que na heráldica significa humildade e riqueza, o ouro, a generosidade e mente elevada.
Ao longo da História e nas mais variadas culturas, a águia sempre se associou aos conceitos de força, coragem, visão superior e perseverança. Em todo o mundo há muitos mitos em redor desta ave que observa o mundo de um plano superior, e existe mesmo quem a considere como a mensageira de Deus e dos Grandes Espíritos que dominam o Universo.
Na mitologia grega faz-se várias referências a esta grandiosa ave, a águia. Conta-se que durante a guerra entre os adoradores de Zeus e os Titãs, foi uma águia conhecida como “Aquila” que conseguiu destruir os monstruosos Titãs, descarregando sobre eles a sua fúria na forma de relâmpagos. Por isso, o nome Aquila foi atribuído a uma das constelações celestes, em homenagem à lealdade da águia. Este grupo de estrelas também é chamado de “Ave de Zeus” ou “Rei das Aves”.
A disposição das estrelas nesse brasão tem uma disposição próxima das estrelas da constelação de Aquila, como se pode observar na figura seguinte.
Parece existir intenção de representar a constelação anterior, no brasão de Celorico da Beira, pois a junção das estrelas com a águia dá-lhe essa conotação.
Os chineses contam uma história sobre uma princesa e o seu amante que, tendo sido separados pelo destino, se comunicavam através de uma águia que os punha em contacto atravessando a Via Láctea no dia 7 de cada mês, levando e trazendo as suas mensagens. A Via Láctea passou a ser considerada como “a ponte dos amantes”, e quando surge uma pena de águia no chão diz-se que nesse momento duas pessoas que se amam estão a tentar entrar em contacto uma com a outra.
As águias possuem visão apurada. Elas observam o mundo de cima para baixo, tendo a capacidade de observar todos os detalhes. Os seus olhos encontram-se protegidos contra a intensidade dos raios do sol, o que lhes permite ver claramente em qualquer circunstância. Em muitas culturas representam a divindade, está ligada aos Grandes Espíritos que dominam a natureza, tendo criado a fama de atingir o Sol sem queimar as penas. Os seus horizontes são ilimitados, mas geralmente vivem em completa solidão. Às penas das águias desde sempre se deram poderes curativos. Conta-se que uma ave com esta forma, chamada Fénix, se rejuvenescia de 100 em 100 anos porque voava tão perto do Astro Rei que deixava que as suas penas se incendiassem. Ao voltar à Terra, banhava-se num lago de águas transparentes e renascia. Pensa-se que esta lenda está relacionada com a purificação cíclica da alma. A Fénix renascida representa a imortalidade, a ressurreição e a vida que se prolonga para lá da morte. Os antigos diziam que vivia na Cidade do Sol, e por isso se cria que trazia os seus ovos para o altar do Deus Sol, para que fossem fertilizados e novas aves fossem trazidas ao mundo.
Apesar de ser uma criatura do Ar, a águia tem íntimas ligações com todos os outros elementos da natureza: voa perto do Sol (Fogo), purifica-se nos lagos (Água) e alimenta-se de pequenos mamíferos que captura no chão (Terra), numa crença pseudo-científica dos quatro elementos gregos que constituem o universo.

2009-11-11

Ano Internacional da Astronomia- Dia 316


Os cientistas da NASA estão espantados com o número de ondas e nuvens de poeira reveladas nos anéis de Saturno durante o equinócio do planeta que teve lugar há dois meses. Os cientistas pensavam que os anéis eram quase completamente lisos, mas as novas imagens revelam as alturas de algumas zonas recém-descobertas nos anéis, tão altas quanto os Alpes.

Os aglomerados de gelo que compõem os anéis principais espalham-se por 140.000 km desde o centro de Saturno, mas esperava-se que tivessem apenas por volta de 10 metros de espessura nos anéis principais, conhecidos como A, B, C e D.

2009-11-10

Ano Internacional da Astronomia - Dia 315 "Ilustração de navio holandês do Século XVIII com relógio de sol de anel"

Félix Rodrigues

O Museu de Angra do Heroísmo possui uma ilustração de um navio mercante holandês do século XVIII onde, para além da estrutura física do navio também se representam as grandes inovações tecnológicas da época. São elas uma bússola de precisão - Zee Kompas (figura 1) - e o relógio de sol portátil de anel - Equinoctiaal Kompas.

Figura 1 – Bússola de precisão para navegação (Zee Kompas)

O problema da determinação das longitudes no mar ocupou durante séculos os grandes sábios europeus, de tal forma que viria a ser estudado intensamente como um problema astronómico entre 1600 e 1800. A resolução desse problema era fulcral para a navegação no alto mar e para o desenvolvimento do comércio internacional. Assim sendo, a ilustração do Museu de Angra do Heroísmo dá conta dos grandes desenvolvimentos tecnológicos, relacionados com a navegação marítima comercial no início do século XVIII, nomeadamente o uso da bússola magnética que permitiria determinar a longitude a partir da declinação magnética na Terra e um relógio de sol tridimensional.
O crescimento económico da Europa, desde a Idade Média até aos nossos dias, dependia do comércio com a América e com a Índia e este era extraordinariamente dificultado pela inexistência de um método para a determinação precisa da longitude de um dado lugar. Assim sendo, a solução física e matemática para a determinação das longitudes constituiu-se desde o século XV o problema tecnológico mais importante de todos os tempos, pelo impacto económico que teria bem como pela morosidade em encontrar uma solução adequada. No século XVIII, assistiu-se ao patrocínio da investigação científico-tecnológica, por parte das empresas de navegação marítima, com a atribuição de prémios pecuniários aos inventores de um dispositivo que visasse resolver esse problema da determinação da longitude em alto mar, com paralelismos com o que acontece na actualidade.

Figura 2 – Relógio de sol portátil de anel (Equinoctiaal Kompas)

Uma das soluções tecnológicas para determinar a longitude prendia-se com a construção de um relógio capaz de funcionar nas mais diversas condições de navegação.
A invenção do relógio mecânico por Cristhian Huygens, no século XV, revolucionou a medida do tempo e promoveu a procura de soluções tecnológicas, com os mesmos princípios físicos e com possíveis aplicações à navegação.
O relógio de Huygens era um relógio pendular e tinha um erro de 1 minuto por dia. Essa invenção permitiu assim perspectivar grandes avanços e grandes mudanças na navegação marítima em alto mar, que resultaria numa medida precisa da longitude com um erro de 80 metros. Antes do relógio, a medida da longitude era feita observando as estrelas do céu e com um erro substancial, ou com um relógio de sol.
Como é então possível utilizar um relógio para determinar a latitude?
Como estamos sobre a superfície esférica da Terra, a posição de um corpo é determinada pelo sistema de coordenadas geográficas: a latitude e a longitude.
Como zero da longitude ou meridiano de referência, adoptou-se, até hoje, o meridiano de Greenwich em Inglaterra. Associou-se o zero da latitude ao equador. Houve uma altura em que se usaram outros meridianos de referência: o que passava na ilha do Corvo ou o que passava em Lisboa.
Até 1735 não existiam relógios capazes de funcionar regularmente sem serem perturbados pelos movimentos dos navios daí que a solução astronómica ou o recurso ao relógio de sol continuavam a ser as únicas possíveis, já que o relógio pendular não se adaptava ao movimento balançante dos navios.
É em 1735 que John Harrison apresenta um relógio capaz de resolver esse problema de navegação, a que actualmente se chama relógio marítimo ou relógio naval.
Harrison candidatava-se então, nesse ano, ao prémio Longitude Act no valor de 20000 libras. O relógio do inglês tinha uma precisão de um segundo num mês e logo na sua primeira saída ao mar foi possível corrigir um pequeno erro que havia na longitude de Orford na Grã Bretanha.
Se o relógio for sincronizado com uma cidade conhecida, e como a superfície terrestre é uma circunferência de 360º, e cada dia tem 24 horas, a cada 15 graus de longitude temos uma hora de diferença entre a hora solar no local e a hora solar na cidade de partida. A determinação do meio-dia local, a partir da altura do sol é muito precisa e assim se determinaria a longitude do lugar. É essencialmente a partir dessa altura que se começa a abdicar da leitura precisa dos céus e das constelações.
A ilustração do Museu de Angra do Heroísmo a que nos temos referido possui um esquema de um relógio solar de anel, com características próximas dos relógios de sol portáteis do século XVI, a que está associado um pequeno anel com características muito próximas de um “planetário”. É um dispositivo tridimensional que combina as características dos relógios de sol portáteis normais com as dos relógios astronómicos.

2009-11-09

Leónidas - Chuva de Estrelas

A 17 de Novembro de 2009, a Terra passará no rasto do cometa Tempel-Tuttle, mas desta vez, mais próxima do centro da nuvem de poeiras libertadas pelo cometa. Baseando-se no número de estrelas cadentes observadas o ano passado, espera-se observar cerca de 500 vezes mais meteoritos por hora, por volta das 21:43 UT (20:43 hora dos Açores) , do que no ano passado.
O fenómeno das Leónidas consiste numa chuva de estrelas associadas à passagem do cometa Tempel-Tuttle. A chuva de estrelas pode ser observada todos os anos por volta de 17 de Novembro, altura em que a Terra se cruza com o rasto do cometa. Este rasto consiste em pequenas partículas sólidas, conhecidas como meteoróides, ejectadas pelo cometa quando passa pelo Sol. As Leónidas foram assim baptizadas devido à aparente origem da constelação Leo: observando o céu tem-se a percepção do fluxo de partículas originar na direcção desta constelação.
As Leónidas são famosas devido à espectacularidade do fenómeno. A sua recorrência tende a ser de 33 em 33 anos, associada à órbita de 33 anos do Tempel-Tuttle. Podem ser observadas verdadeiras tempestades de estrelas cadentes em determinados anos, chegando a atingir os milhares de meteoritos por hora; com efeito, algumas datas assinaláveis para este fenómeno foram 1698, 1799, 1832, 1833, 1866, 1966, 1999, 2001 e 2002.

2009-11-08

Ano Internacional da Astronomia - Dia 314 "Brasão da Póvoa do Varzim"

Isabel Neves e Félix Rodrigues

Póvoa de Varzim é uma cidade portuguesa do distrito do Porto, Região Norte e sub-região do Grande Porto. Situada numa planície costeira arenosa, a sul do Cabo de Santo André, a meio caminho entre os rios Minho e Douro, é povoada por 42 396 pessoas, na área urbana, com um total de 63 470 pessoas, segundo o censo de 2001. Em 2007 estimou-se que a população era de 66 463 pessoas.
As primeiras populações fixaram-se no seu território entre quatro a seis mil anos antes da actualidade. Por volta de 900 a.C., a instabilidade na região levou à fundação de uma cidade fortificada. O mar sempre teve primazia na sua cultura e economia, primitivamente através do comércio marítimo, depois com a pesca, levando a que adquirisse um foral em 1308 e, consequentemente, tornou-se no principal porto de pesca do Norte de Portugal em pleno século XVIII. Desde os finais do século XIX, devido aos seus extensos areais, tornou-se numa das áreas principais turísticas da região.
A Póvoa de Varzim é uma das poucas zonas de jogo legal em Portugal e possuiu industrias têxtil e alimentar significativas. A cidade desfruta de uma cozinha piscatória rica e mantém tradições antigas, tais como siglas poveiras ou masseiras.

O Brasão da Póvoa de Varzim é constituído por um escudo azul, com uma cruz nodosa de ouro, terminada inferiormente por dois braços de âncora de prata rematada superiormente por um anel, do qual cai um rosário de ouro. Enfiado no mesmo, ladeando a haste da cruz dos dois lados entrelaçando-se no seu pé; e em chefe, um sol de ouro, à dextra, e uma meia lua de prata deitada ( com as pontas para o flanco direito ) à sinistra. Coroa mural de prata de cinco torres. Listel branco com a legenda a ouro " PÓVOA DE VARZIM ".
A simbologia do brasão está associada a uma âncora: Símbolo da Segurança e constância no Mar e à Cruz e Rosário, representativos da grande Fé dos povos da Região
Na heráldica, a aplicação da cruz é muito ampla. Isto decorre principalmente da enorme quantidade de formatos que a ela são dados na confecção dos brasões. Além disto, há um vasto uso na heráldica religiosa, tumular e na confecção de condecorações, bandeiras e insígnias. A correcta definição de cruz é a de uma figura formada por uma pala e uma faixa cruzadas, mas sem continuidade entre elas. Um dos formatos mais primitivos da cruz foi usado pelos gregos e pelos egípcios há 5 mil anos e tinha a forma de um "T" encimado por um anel, símbolo de divindade, e que se chamava Cruz de Ankl. A primeira vez que a cruz foi oficializada como símbolo, neste caso de fé, aconteceu no reinado de Constantino. Isto ocorreu devido ao imperador ter sido, surpreendentemente, vencedor da batalha contra Mexêncio.
Daí por diante, na vanguarda do exército de Constantino, seguia um estandarte composto por uma cruz com a legenda "IN HOC SIGNO VINCES" (com este sinal vencerás). O uso da cruz como elemento de brasão de armas nasceu com as cruzadas. As grandes ordens de Cavalaria como São João, dos Templários, de Calatrava, de Malta e outras escolheram a cruz como seu símbolo. Os duques de Saboya tem no seu escudo uma cruz branca como lembrança de terem socorrido Rhodes contra os turcos. Muitas famílias da nobreza europeia tem uma cruz enos seus escudos, por terem tomado parte nas cruzadas. Os contingentes das cruzadas de diferentes países distinguiam-se no uso da cruz; os escoceses usavam a Cruz de Santo André; os ingleses, uma cruz de ouro; os alemães, uma cruz negra, os italianos, azul e os espanhóis vermelha. Eduardo III da Inglaterra, reinvindicando a Coroa da França, adoptou para seu exército, a cruz vermelha em 1335 e a França, para evitar confusão, ficou com o branco. Ainda hoje a Cruz Vermelha de São Jorge representa a Inglaterra, assim como, depois de outra mudança, a cruz branca caracteriza a Itália. Portugal ficou associado à cruz azul que o conde de Dom Henrique levou para a Terra Santa.
Na heráldica portuguesa, desde 1459, que se encontra a cruz em muitos brasões, como é o caso da utilizada na Póvoa do Varzim.
O Sol e Lua são elementos sempre presentes na vida dos Pescadores. Normalmente sol e a lua representam o homem e a mulher ou a recriação dos ciclos da Natureza, por se juntarem os princípios do feminino e do masculino.
Sol Lua e âncora, são elementos que já existiam nos antigos brasões da Póvoa do Varzim. A imagem que se segue é do Brasão da Póvoa de Varzim, segundo uma estampa policromada de uma série de brasões municipais, do século XIX [1830].

A vila da Póvoa de Varzim,
tem por brasão em campo branco um
agival azul, na parte superior deste
uma volta de Cadêa de prata,
pendendo na parte inferior della
uma ancora: aos lados da argola
que prende a ancora á Cadêa, o sol,
de ouro, e a lua de prata.

Ano Internacional da Astronomia - Dia 313


Aglomerado aberto M7, na constelação de Escorpião.

2009-11-07

Ano Internacional da Astronomia - Dia 312 "Construção de uma balestilha"

Félix Rodrigues

As primeiras descrições da utilização da balestilha surgem em documentos do século XVI, mais concretamente no Livro de Marinharia, de João de Lisboa (1514).
Em 1529, o navio de pesca de João Gomes foi assaltado ao largo da costa da Guiné, por corsários franceses. Entre as coisas levadas pelos assaltantes encontravam-se «agulha e astrolábio e balestilha e regimento para a arte de navegar».
Alguns historiadores defendem a sua origem na modificação do báculo de Jacob, instrumento medieval utilizado em agrimensura. Outros, defendem ser de concepção portuguesa.
Este instrumento é extremamente simples e é constituído por uma vara de madeira de secção quadrada – quatro escalas – denominada virote, com cerca de 80 centímetros de comprimento. Ao longo desta corre uma pequena peça de madeira – de dimensões diferentes para cada uma das escalas – chamada soalha. Em cada uma das arestas do virote encontra-se uma escala de acordo com as dimensões da soalha a utilizar. Numa observação nocturna o observador olha pelo orifício, na extremidade do virote, de forma a ver a estrela tangente à aresta superior da soalha e o horizonte tangente à aresta inferior (ver imagem seguinte).


Porque o Sol não pode ser visado directamente, quando se pretendia medir a sua altura, a observação era feita de revés, isto é, de costas para o astro. Neste caso, a sombra da aresta superior deveria ser projectada no meio da soalha deslizante e, simultaneamente, fazer esta coincidir com a linha do horizonte (ver imagem seguinte).


A balestilha foi o primeiro instrumento de navegação astronómica a ter como referência o horizonte de mar.
A construção de uma balestilha é simples, ilustrando-a um pouco melhor na imagem seguinte.

Se o virote tiver 80 cm, a soalha deverá ter 42,8 cm, 21,4 cm para cada lado, a contar do seu centro. A escala do virote pode ter uma escala graduada linear, mas os valores de afastamentos angulares entre corpos celestes que nos fornece não é proporcional. A escala a usar é tanto mais precisa quanto maior for o número de pontos.
Na figura seguinte, apresenta-se, em esquema, como a partir das distâncias, desde a posição do olho até ao ponto onde está a soalha, se pode medir o afastamento angular entre dois corpos celestes.

Se utilizarmos uma escala graduada em cm, no virote, a correspondência ângulo em graus e o comprimento em cm, é dada a partir da tabela seguinte.

Ano Internacional da Astronomia - Dia 311


A cratera Stickney é a uma cratera localizada em Fobos, satélite natural de Marte. A cratera está localizada nas coordenadas 5° S 55° O e é maior cratera de Fobos e tem um diâmetro de 9 km e ocupa boa parte do território da lua marciana.
O nome foi dado em homenagem à Chloe Angeline Stickney Hall, esposa do astrônomo Asaph Hall que descobriu Fobos.
A cratera Stickney possui outra cratera dentro dela de 2 km de diâmetro, fruto de um impacto posterior.

2009-11-05

Ano Internacional da Astronomia - Dia 310 "Brasão da Cidade de Abrantes"

Félix Rodrigues
O brasão da cidade de Abrantes tem, sobre um fundo azul, uma estrela de oito raios de prata em abismo, que simboliza a "Virgem Maria, comemorando a edificação da Igreja de Santa Maria do Castelo sobre as ruínas da mesquita dos mouros" para outros autores a estrela significa a conquista de Abrantes aos Muçulmanos.

As quatro flores-de-lis em ouro, que se encontram nesse brasão, dispostas em cruz, eram o símbolo heráldico do primeiro alcaide-mor de Abrantes, D. Pedro Afonso. Esse brasão também tem quatro corvos pretos virados para a estrela. Os corvos são alusivos a S. Vicente atestando assim ser este o santo, o patrono ou o orago da cidade.
Uma estrela de oito pontas também representa, na mística católica, o início da criação ou segundo outros autores, o nascimento de Cristo, como na Estrela de Belém que aparece em muitas das representações da Natividade que foram sendo criadas ao longo dos séculos. As representações mais antigas da Natividade tem uma estrela simples, de seis, sete ou oito pontas, como é o caso de algumas, do séc. IV, encontradas em sarcófagos no Vaticano, ou, do séc. VI, em mosaicos de Ravena.

O capitel do séc. XII, de Gislebertus, da catedral de Autun em França, que se pode ver na imagem anterior, exibe uma estrela de oito pontas.
Também é sabido que a deusa babilónica Ishtar tinha uma ligação próxima com a Lua e com as suas fases. Esta tanto representava a vida e a fertilidade (lua cheia) como a destruição e a morte (lua nova). Na fase destruidora esta deusa era representada como uma estrela de oito pontas. A deusa Vénus, conhecida desde longa data como estrela da manhã, era representada na Babilónia, por uma estrela de oito pontas, confundindo-se por vezes com Ishtar.
Os Templários, da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, apropriaram-se deste símbolo e outras referências pagãs e associaram-no à Virgem Maria, incorporando-o, até aos nossos dias, na mais diversa simbologia, como no símbolo da Virgem Maria que se diz estar no brasão de Abrantes.
Para corroborar o que se afirma, veja-se por exemplo, na imagem seguinte, o selo do Irmão Robert de Retz, do século XIII, que tem no seu emblema, uma estrela de oito pontas e a lua, numa incorporação nítida dos símbolos babilónicos de “Isthar junta com a Lua”.

Selo descoberto no século XIX, na cidade de St. Père em Retz, costa oeste da França.

No quadro que se segue, de um pintor bizantino desconhecido de meados do século quinto, representa-se a Mãe de Deus (Nossa Senhora do Perpétuo Socorro), tendo no manto sobre a cabeça uma estrela de oito pontas (Vénus) simbolizando a estrela que nos guia no mar da vida até o porto da salvação.

A simbologia babilónica de Vénus e Lua, aparece em muitas outras imagens de Nossa Senhora, como por exemplo na imagem de Nossa Senhora de Copacabana (Brasil), Nossa Senhora do Amparo (Brasil), Nossa Senhora de Guadalupe (México), Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora da Boa Viagem.

Nossa Senhora de Copacabana.

Nossa Senhora do Amparo.

Nossa Senhora de Gadalupe.

Nossa Senhora da Conceição.

Nossa Senhora da Conceição onde a disposição das mãos faz uma estrela de oito pontas.

Nossa Senhora da Boa Viagem da freguesia das Calhetas, São Miguel.

Segundo a mitologia romana, Vénus era a deusa do amor e da beleza, com capacidades para influenciar os humores das pessoas. Dada a sua natureza maternal, esta deusa protegia os mortais e era, normalmente, portadora de paz e amor. Era mesmo considerada a “mãe do povo romano”. Parece ser nítida a associação, na religião católica, das qualidades de Vénus (deusa e planeta) a Nossa Senhora, ganhando consistência essa hipótese porque a Igreja Católica nasceu durante o império romano, daí que nos pareça ser lícito que se tenha adaptado nesta nova teologia aos esquemas e práticas sociais já existentes. Tal incorporação cultural chega aos nossos dias, resultado da crença que o movimento dos astros influencia a nossa vida.

2009-11-04

Ano Internacional da astronomia - Dia 309 "Na Lua Cheia, não cortes pau nem veia"

Félix Rodrigues

Na medicina medieval recorria-se ao uso do horóscopo e à astrologia, porque se acreditava que a posição dos planetas nos 12 signos do Zodíaco, afectava de algum modo a saúde humana, do mesmo modo que a Lua condicionava as marés, o Sol, era responsável pelas boas safras.
Na Idade Média, cada órgão do corpo humano obedecia aos humores de um signo: Carneiro e a lua, por exemplo, regiam a cabeça, Sagitário as pernas, e Peixes conduzia os pés.

O médico Avicena (980-1037) afirmava que era “a má disposição dos céus quem rapidamente empeçonhentava os corpos”. A doença devia-se ao ar corrompido pelos astros que também eram responsáveis pelos surtos de epidemias que apavoravam e devastavam a sociedade medieval.
Hoje em dia ainda há termos como aluado ou lunático que resultam da crença de que a lua influência a cabeça.
Exactamente por isso, os estudantes de medicina da Universidade de Bolonha estudavam astrologia durante quatro anos, para que, quando aplicassem a sangria num paciente ela não fosse feita durante um estágio não conveniente da Lua (a Lua cheia, estavam certos, provocava uma hemorragia em excesso). Popularmente ainda se diz, fundamentados nessa crença medieval que “Na Lua cheia não cortes pau nem veia”. Não havia, príncipe, conde ou barão daqueles tempos que não tivesse um astrólogo à sua disposição, mesmo que a Igreja Católica o proibisse. Mesmo no Renascimento, o matemático e astrónomo Kepler obtinha o seu rendimento preparando almanaques com previsões e elaborando mapas astrais para a corte do duque de Wallenstein.
Versos do Regimen Sanitatis Salernitanum apareciam com frequência nos Lunários Perpétuos dos Séculos XVII e XVIII e pretendiam estabelecer relações entre os astros e a saúde. Os lunários eram calendários perpétuos baseados nas fases da Lua. Essas publicações preocupavam-se com as questões da saúde e a previsão do tempo pela observação dos astros, das plantas e do comportamento dos animais. Tais ensinamentos estão presentes no livro “As geórgicas”, do poeta Virgílio (século I a.C.). Esta obra erudita influenciou os popularíssimos livrinhos “lunários perpétuos” editados em Portugal desde a Idade Média destinados à classe rural. As Geórgicas, de Virgílio, são um poema didáctico sobre trabalho. Constavam de quatro livros sobre agricultura e com indicações consideradas científicas na época.
Muitos provérbios populares sobre o ciclo lunar ou sobre a sua influência na saúde ou agricultura podem ser encontrados, destacam-se os seguintes:
"A lua não fica cheia num dia." – Referência explícita ao ciclo lunar (29,5 dias).
"Não há Entrudo sem lua nova, nem Páscoa sem lua cheia." – Acentua o carácter móvel dessas duas festividades, cuja marcação se rege pelo calendário lunar.
Provérbios como "Quando a Lua minguar, nada deves começar.", "Quando a lua minguar, não deves regar.”, "Lua cheia, abóboras como areia.", "Quando minguar a lua, não comeces coisa alguma." e "Quando a Lua minguar, nada hás-de semear.", traduzem crenças de que a Lua influencia as colheitas agrícolas.
O provérbio, "A lua é calma e tem vulcões no seio." refere-se a aspectos da morfologia da sua superfície, erradamente associados a crateras vulcânicas em vez de crateras de impacto.

2009-11-03

Ano Internacional da Astronomia - Dia 308 "A bandeira da Formosa"

Isabel Neves e Félix Rodrigues

A ilha de Taiwan (Formosa), situa-se a cerca de 200 km da costa sudeste da China, separada desta pelo estreito da Formosa, com o Mar da China Oriental a norte, o mar das Filipinas a leste, o estreito de Luzon a sul e o Mar da China Meridional a sudoeste. A ilha é caracterizada pelo contraste entre os dois terços orientais, que consistem principalmente de montanhas escarpadas, divididas em cinco cordilheiras entre as extremidades norte e sul da ilha, e o terço ocidental, composto por planícies e terreno pouco ondulado, área onde se aglomera a maioria da população da ilha. O ponto mais elevado de Taiwan é o Yu Shan, com 3 952 m.
A Formosa ou Taiwan (臺灣 ou 台灣) é um país insular do Extremo Oriente, reivindicado pela República Popular da China, que a considera uma província rebelde. As ilhas Pescadores são um arquipélago na costa oeste de Taiwan, no Estreito de Taiwan, contendo 90 pequenas ilhas, que cobrem uma área de 141 quilómetros quadrados. Essas ilhas são administradas como sendo o Condado de Penghu, Província de Taiwan (Formosa), República da China.
Desde meados do século XVII até 1895, a Formosa (Taiwan) e a Ilhas Pescadores foram governadas por piratas, pelo Império Holandês, pelo Reino Koxinga e pela Dinastia Qing, sucessivamente. A Dinastia Qing cedeu então essas ilhas ao Japão em 1895 pelo Tratado Sino-Japonês de Shimonoseki. Na Declaração do Cairo, de 1943, os Estados Unidos, o Reino Unido e a China declararam que era seu propósito "que todos os territórios que o Japão tinha roubado dos chineses, tais como a Formosa e as ilhas Pescadores, deveriam ser devolvidas à República da China. Em 26 de Julho de 1945, os três governos lançaram a Declaração de Potsdam, declarando que "os termos da Declaração de Cairo deveriam ser executados". No Tratado de São Francisco, o Japão renunciou a soberania da Formosa e ilhas Pescadores, mas não estabeleceu a sua disposição final. O arquipélago tem sido administrado pela República da China como parte da Província da Formosa desde 1945.
O país é banhado pelo Mar da China Oriental ao Norte, pelo Oceano Pacífico a Leste (através do qual tem fronteira marítima com o Japão), com o Canal de Bashi, que serve de fronteira com as Filipinas e com o Mar da China Meridional ao Sul, e com o Estreito da Formosa, que faz fronteira com a China continental, a Oeste. A sua capital é Taipé.
As cores da bandeira de Taiwan representam os três princípios do povo de Sun Yat Sem. Possui três cores: branco, azul e vermelho. O branco representa a sobrevivência do povo e a fraternidade, o azul representa a Democracia e a igualdade e o vermelho representa o nacionalismo e a liberdade.

O sol, de cor branca, simboliza o espírito do progresso e os seus doze raios representam as 12 horas chinesas do dia ou os 12 meses do ano.
Essa bandeira começou a ser utilizada a 17 de Dezembro de 1928, ainda na China.
Os estudos de astronomia iniciaram-se muito cedo na China. Graças aos astrónomos/astrólogos imperiais, conheciam-se os dias da mudança das estações e previam-se e interpretavam-se todos os sinais celestes.
Em vez de se basearem no movimento da eclíptica, como o fizeram os astrónomos ocidentais, os chineses observavam as estrelas circumpolares, que eram visíveis durante a noite toda e durante o ano todo. Concentravam-se também nas 28 constelações circumpolares, que denominavam de Sui. Cada uma dessas constelações pertencia a um dos palácios celestes, numa perspectiva astrológica, e tinha o nome de um animal. Esses animais não só davam nome aos doze meses do ano, como também aos ciclos horários e aos ciclos de 12 meses. Segundo uma lenda chinesa, Buda convidou todos os animais da criação para uma festa de Ano Novo, prometendo uma surpresa a cada um dos presentes. Apenas doze animais compareceram e ganharam um ano de acordo com a ordem de chegada: o Rato, o Boi, o Tigre, o Gato, o Dragão, a Serpente, o Cavalo, o Carneiro, o Galo, o Cão e o Porco.
A história taoista diz que quando o imperador do céu convocou todos os animais para concorrer aos 12 postos que tinha para lhes oferecer, o rato não estava em primeiro lugar. Sem hesitar, saiu do seu lugar na fila e saltou para as costas do boi. Aí, quando o Imperador do Céu deu o sinal de entrada aos animais, este deslizou pelas costas do boi e roubou-lhe o primeiro lugar.
Existe outra versão para a atribuição da ordem de nomeação dos anos chineses. Afirma-se que tal ordem foi estabelecida de acordo com a lei das actividades diárias dos animais. Já na dinastia Han, século III antes de Cristo, a China dividia o dia em 12 horas e cada animal representava uma hora do dia. O rato estava associado à primeira hora porque a meia-noite era considerado o período mais activo desse animal.

2009-11-02

Ano Internacional da Astronomia - Dia 307 “Sol de Junho, madruga muito”, “No Outono, o Sol tem sono”

Félix Rodrigues

Se o Sol “madruga muito” em Junho, isso deve-se ao facto de ser observado mais cedo no horizonte do que no Inverno. Devido à inclinação do eixo da Terra, a época estival é o período de maior de luminosidade natural. É também pela mesma razão, mas em sentido oposto, que surge o provérbio “No Outono, o Sol tem sono”, isto é, o astro-rei encontra-se numa declinação, mais baixa, mais uma vez resultado da inclinação do eixo da Terra, dando a impressão, a um observador terrestre localizado no hemisfério Norte, de que efectivamente, o Sol está mais baixo.
É senso comum que o dia e a noite têm durações idênticas com períodos de 12 horas. Isso só acontece no equador (em todas as estações do ano) e duas vezes por ano, durante os equinócios, noutras latitudes. A latitudes diferentes da do equador, a duração dos dias e das noites são diferentes ao longo do ano. Os solstícios de Inverno e Verão podem ser definidos a partir dos dias mais curtos e mais longos, respectivamente, tal qual como o fazem os provérbios anteriores. Como é sabido, são os equinócios e solstícios que marcam o início das estações do ano (Verão, Outono, Inverno e Primavera), tanto no hemisfério Norte como no hemisfério Sul, e podem ser obtidos através da duração do dia solar, medida a partir do momento em que metade do Sol cruza o horizonte, a nascente, e o momento em que cruza o poente, com excepção, evidentemente dos observadores localizados sobre a linha do equador.
Se calcularmos a duração dos dias ao longo do ano para a latitude dos Açores, verificamos que os dias mais longos, com 13 horas e 51 minutos, ocorrem no mês de Junho, enquanto que os mais curtos ocorrem no início do Inverno, com apenas 10 horas e 27 minutos de luz. Assim, o Sol de Junho, começa mais cedo do que o habitual (madruga muito) e também se deita mais tarde. Quanto ao segundo provérbio, é a partir do início do Outono que os dias começam a ficar com menos de 12 horas, ou seja, o Sol começa a ficar com “sono”, tendo os dias, em pleno Outono (31 de Novembro), uma duração de 10 horas e 35 minutos.
Os princípios físicos subjacentes aos provérbios anteriores estão correctos para a latitude dos Açores e para as latitudes de Portugal continental, todavia, perdem sentido se aplicados a outros países de língua oficial portuguesa.
O provérbio “Janeiro fora cresce uma hora” precisa de ser devidamente interpretado para se entender o que efectivamente traduz. Se “fora” for entendido como início do mês de Janeiro, ou seja, que começa a vigorar o mês de Janeiro, o provérbio não se adequa, uma vez que se subentende que Janeiro terá uma hora a mais do que o mês de Dezembro. Janeiro tem sensivelmente 27 minutos a mais de luz por dia do que os dias de Dezembro, ou seja, aproximadamente meia hora. Entendendo “fora”, como terminado que é Janeiro, Fevereiro tem dias com mais uma hora de luz do que Janeiro, assim tal provérbio já será verdadeiro, pois a diferença entre as horas de sol dos primeiros dias de Janeiro e os últimos dias de Fevereiro é de 1 hora e sete minutos, ou seja, aproximadamente uma hora.
O provérbio “Em Janeiro uma hora por inteiro e, quem bem olhar, hora e meia há-de achar” não faz muito sentido do ponto de vista científico. Falta-lhe, para o precisar, do mês de comparação ou de referência. Se compararmos com Dezembro ou Fevereiro, tal não é verdade, todavia se a comparação for feita com Novembro, será verdadeiro, mas não faz muito sentido porque as comparações, para serem estendíveis, ou são feitas com o mês anterior ou com o mês posterior, ou até entre estações do ano. Ditado semelhante ao anterior “Janeiro tem uma hora por inteiro”, não parece ter, tal como o anterior, qualquer enquadramento científico à latitude dos Açores, pois afirma que é em Janeiro que aparece uma hora a mais. Tal não é verdade. Para que se possa verificar essa conclusão, basta consultar a tabela que se apresenta no final deste documento.
A duração dos dias e das noites pode ser calculada em função da latitude de um dado lugar e de um dia do ano específico, pela expressão:


onde
Td é a duração do dia, em horas,
φ é a latitude do local,
δ é a declinação do local na data pretendida,
A declinação, por sua vez, pode ser calculada pela próxima expressão:

onde n é o número correspondente ao dia juliano pretendido (o dia juliano é um dos números da série consecutiva de 365 dias ou 366, consoante o ano seja bissexto ou não, por exemplo: 1 de Janeiro = 1; 31de Dezembro = 365).
Todos os ângulos e resultados parciais de ângulos devem ser expressos em graus, para que as expressões forneçam resultados correctos.
Na tabela seguinte apresenta-se a duração do período de luz na ilha Terceira, para cada dia do ano de 2009 e que permite justificar a veracidade, ou não, dos provérbios anteriormente referidos.
Se pretendermos, por oposição, calcular a duração da noite em cada dia do ano, torna-se evidente que esta será 24 horas menos a duração do dia.

2009-11-01

Ano Internacional da Astronomia - Dia 306


Vulcão Ekla e aurora boreal.

Astronomia no dia a dia : Construção de um Kamal ou Balestilha do Mouro

O Kamal, é um instrumento rudimentar de medição de afastamento angular entre corpos celestes, que se crê ter sido mostrado a Vasco da Gama pelo navegador árabe Ahmad Ibn-Madjid, que o levou à Índia. Esse dispositivo era usado pelos árabes para determinar as alturas das estrelas e assim obter a latitude do lugar onde se encontravam. Trazido para a Europa pelos portugueses foi utilizado nos navios com a designação de Tavoletas da Índia ou Balestilha do Mouro. Foi utilizado pela primeira vez na viagem de Pedro Álvares Cabral.
Na figura seguinte, apresenta-se em esquema, a Balestilha do Mouro.

O kamal era formado por uma tábua rectangular presa a um fio com vários nós, suspenso a partir de centro da tábua. A estes nós correspondia uma graduação em isbas (isba em árabe significa dedo), unidade angular equivalente a 1º37', unidade essa, usada pelos navegadores árabes no Índico, na determinação das latitudes. Para mediar a distância angular entre dois corpos celestes, punha-se o dedo na horizontal sobre a tábua, com o braço esticado.
Nessas medições, prendia-se o nó com os dentes, ou encostava-se a mão com o nó junto ao rosto, e esticava-se o fio, com a peça de madeira afastada do rosto, visando o horizonte pelo lado inferior da tábua e a estrela pelo lado superior, oposto. Com a mão livre contavam os nós que sobravam para se efectuar o cálculo.
Devido ao facto dos lados da tábua não serem iguais, cada kamal permitia fazer dois tipos de medições de distâncias angulares ou alturas de astros, pois estes ficariam compreendidos entre limites diferentes da tábua: uma com o lado maior e outra com o menor. Tal facto dificultava o seu uso, e para além disto, cada piloto levava consigo mais do que um kamal diferente a bordo.
O kamal trazido por Vasco da Gama para Portugal, estava adaptado à navegação no Índico e os nós referiam-se a medidas e a pontos de referência diferentes dos usados pelos portugueses. A adaptação ao Atlântico, por ser morosa, nunca foi adoptada de forma generalizada.
Há entanto notícia que, depois de apurado o factor de conversão entre isbas e graus, construíram-se alguns instrumentos deste tipo graduados em graus, e que na primeira metade do século XVI os pilotos portugueses ainda se serviram das Tavoletas da Índia.
Sabe-se também que em finais do século passado alguns pilotos orientais ainda usavam este instrumento. Na figura seguinte exemplifica-se o modo de medição da distância angular de um astro, com o Kamal.

O número de nós ao rectângulo de madeira dá-nos a quantidade de isbas que corresponde a esse afastamento, mas em sentido inverso, ou seja, se a cordel tiver catorze nós e estiver completamente esticada, um isba, corresponde a segurar o 13º nó, restando um para que a corda fique completamente esticada, assim o número de isbas é medido através do números de nós que restam na corda ou fio, para a ter completamente esticada.
Na construção do kamal que aqui se propõe, sugere-se o uso de uma tábua rectangular de dimensões 10 cm x 5 cm. Admite-se que o ângulo entre o fio e a tábua é igual ao ângulo entre a linha de visão do equador e do astro. Se não o for, o mesmo utilizador cometerá sempre o mesmo erro, e no conjunto das observações que faz com esse instrumento repete de forma sistemática os mesmos erros.
O primeiro nó, contado a partir da tábua deve ser dado aos 6,5 cm, o segundo aos 7 cm, o terceiro aos 7,5 cm, o quarto aos 8 cm, o quinto aos 9 cm, o sexto aos 10cm, o sétimo aos 11cm, o oitavo aos 12,5cm, o nono aos 15 cm, o décimo aos 17,5 cm, o décimo primeiro aos 22 cm, o décimo segundo aos 29,5 cm, o décimo terceiro aos 44,5 cm e o décimo quarto aos 88,5 cm. Essa distribuição corresponde a medir as distâncias angulares com o lado menor da tábua. Quando se mede com o lado maior, cada isba corresponde a um resto de dois nós, ou seja, ao valor do deslocamento angular que é metade do anterior, determinado com o lado menor.
Se se pretender transformar isbas em graus, basta multiplicar o número de isbas por 1,617º.

Félix Rodrigues