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2010-05-30

Sangue do meu sangue

Se o sangue sair de mim,
E com outro se juntar,
Terei um filho.

Não é de mim, nem dela
Que sentirei as dores,
É um outro eu, através do qual:
Conjecturo, rio e choro.
É um outro eu, através do qual,
Amo.
É um outro eu, através do qual,
Gemo com as asperezas da sua vida.

O sangue ao sair de mim,
Ao juntar-se a outro sangue,
Sou eu, fora de mim,
Virtualmente duplicado,
Duplamente responsabilizado,
Dobradamente esmorecido,
Duplicadamente fortalecido,
Multiplamente enternecido.

Félix Rodrigues
Angra do Heroísmo, 30 de Maio de 2010.

2010-05-24

O homem e a besta

Por pequenas coisas,
Destinos incontroláveis,
O homem atinge o seu limite
E transforma-se,
Na besta que o persegue.

O caos sensível, imperceptível,
Presente em cada esquina,
É a luz, o cheiro, o percursor,
Do temor,
Que o homem confina.
É a besta que ao soltar-se,
O fará:
Perder a razão,
Até mesmo, a emotividade,
Guardada no coração.

A besta está no terminus do homem,
Na terra da inferneira,
Na ausência de razão,
Esperando avidamente,
O conjuntura exacta:
Para se soltar,
Para se descontrolar,
E tudo, o todo,
O que a rodeia, arrasar.


Félix Rodrigues
Angra do Heroísmo, 23 de Maio de 2010.

2010-05-16

Fobias

A ignorância é uma fobia,
Que se tratada com desprezo,
Cresce e fortalece-se,
Na arrogância do paciente.

Quem conhece os seus prenúncios,
Ou entende os seus mecanismos,
Está drogado com o antídoto,
Que faz crer que a verdade,
Está com quem o toma.
Não entende o outro lado.

Dar saber à ignorância,
Sem saber para que serve,
É possuir a dependência,
Da sobrançaria do saber,
Também ela uma fobia,
Difícil de combater.

Félix Rodrigues
Angra do Heroísmo, 16 de Maio de 2010.

2010-05-09

Eyjafjallajoekull

Debaixo de uma abóbada cristalina,
Enrolado em posição uterina,
O monstro fumava,
Berrava, jorrava.

Em cima de cristais de gelo,
Sem roupa, desnudo ou em pêlo,
O monstro rosnava,
Dançava, desgraçava.

Não lhe bastava ser imenso,
Excepcional, quase divinal,
Tinha que se manter suspenso,
Entre o éter e o carnal.

Félix Rodrigues
Angra do Heroísmo, 9 de Maio de 2010.

2010-05-02

Mãe: De Pedra e Cal

Se o teu orgulho de ser mãe,
For confrontado,
Com o esquecimento de ser filho,
Quanto sofrerás?

Se a tua crença,
Na perfeição dos genes que herdei,
For abalada pela realidade do sou,
Quanto te martirizarás?

Mãe,
Se me esqueço do amor,
Olho para ti, e encontrá-lo-ei.
Se bruscamente, esbarro na falta de afecto,
Tenho-te no meu encalço.

A certeza de que és mãe,
Não depende do meu caminho,
Mas sei que te fortaleces,
Com um pouco do meu carinho.

Félix Rodrigues
Praia da Vitória, 2 de Maio de 2010.