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2007-09-29

Medusa

Se te encantares com as Górgonas gregas,
Foge do seu abraço.
Não ponhas a cabeça,
No seu regaço.Se a irmã mais bela,
Te parece confusa,
É um estratagema dela.
Não é Esteno ou Euríale,
É Medusa,
A mortal.

Se ouvires a balada das physalias,
Não te tocou o amor,
É um presságio de dor,
Que se seguirá ao ardor,
Que julgaste ser rubor.
É veneno e não paixão,
O que te provoca a ilusão,
De querer sentir,
Ou mesmo possuir,
Uma bomba atómica biológica,
Em plena crise ecológica.

Félix Rodrigues

Arriscamo-nos a que o mundo seja governado por seres sem ossos, sem sangue e sem cérebro. Pra que servem os nossos?
As águas vivas ou medusas são, em termos fisiológicos, autênticos fósseis vivos. Há mais do que 500 milhões de anos que sobrevivem nos oceanos.
Actualmente o aquecimento global e a poluição contribuem para o aumento destes seres, e biliões destas criaturas invadem as praias e costas de praticamente todos os locais tropicais e subtropicais. E embora não tenham ossos, sangue e cérebro, algumas destas medusas estão equipadas com um autêntico arsenal mortífero. São belas: para apreciar à distância, são monstros, na intimidade.
A Physalia physalis (caravela portuguesa), por exemplo, não tem movimento próprio, flutua à superfície das águas, empurrada pelo vento, onde os seus tentáculos, debaixo de água, estão sempre prontos a envolver um peixe, necessário para a sua alimentação. Os seus tentáculos podem atingir os 30 metros de comprimento e interceptar-nos, num mergulho nas águas límpidas do Oceano. Essa medusa tem uma bonita cor azul e tentáculos cheios de células urticantes, aparecendo nas praias de todas as regiões tropicais.
O Professor João Pedro Barreiros do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores afirma que no topo dos animais marinhos que mais acidentes em humanos têm causado estão as caravelas portuguesas e as cifomedusas Pelagia noctiluca e Aurelia aurita.
Recentemente, têm sido observados grandes grupos de Physalia physalis nos Açores e um pouco por toda a parte, o que faz aumentar grandemente o risco de acidentes entre os banhistas.
Há tendência para que o número de águas vivas nos oceanos aumente, porque o clima está a aquecer e porque a poluição marinha também está a aumentar.
Se pensamos que o homem é o ser que melhor se adapta a uma alteração do ambiente, enganamo-nos: as águas vivas serão capazes de nos superar.
A nossa acção no planeta está a levar-nos para um rumo perigoso: arriscamo-nos a que o mundo seja governado por seres sem ossos, sem sangue e sem cérebro. Perguntemo-nos: para que servem os nossos?

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Assine a petição a favor da causa Birmanesa. Quando clicar sobre a imagem, acederá ao formulário.

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2007-09-26

Cory's Shearwater

Grow little Cory’s Shearwater,
Learn to fly,
And let me stay,
For a day,
Sharing the waters,
And liberty,
Fairly,
With you.
Félix Rodrigues

2007-09-22

Cresce Cagarro

Cagarrito. O Cagarrito,
É Cagarro pequenito,
Deixado no buraquito,
De lava ou de traquito.

Fotografia de Paulo Henrique Silva no CD multimédia "A Madrugada das Cagarras"
.


Cagarrinho. O Cagarrinho,
É Cagarro pequenino,
Que busca como um menino,
Rumo para o seu destino.

Ilustração de Bernardo Carvalho no livro infantil "Zeca Garro" de Filipe Lopes e Carla G. Silva



Oh! Cagarro. Seu Cagarro.
Com o teu bico bizarro
Afasta-te desse carro,
Que contigo ainda esbarro.

Ilustração de Bernardo Carvalho no livro infantil "Zeca Garro" de Filipe Lopes e Carla G. Silva
.
Cagarrão, seu Cagarrão.
Procuraste no mar um vulcão,
Para fazeres uma criação,
Com muita dedicação.

Fotografia de Paulo Henrique Silva no CD multimédia "A Madrugada das Cagarras"

Félix Rodrigues
Qual é a ave que mais aprecias?

O Cagarro, a Cagarra ou Pardela, é uma ave marinha de nome científico Calonectris diomedea, onde a subespécie borialis nidifica maioritariamente no arquipélago dos Açores (perto dos 76% da população mundial).
Nesta altura do ano, nos Açores, os juvenis começam a abandonar os ninhos e por vezes chocam com as luzes de automóveis ou da iluminação das estradas.
Há necessidade de reencaminhar esses animais, que se encontram muito desorientados na via pública. No arquipélago existe a campanha SOS Cagarro que tem exactamente essa finalidade.
Os gritos do cagarro impressionaram os primeiros povoadores das ilhas, depois foi seu alimento, mais tarde, os seus medicamentos, e hoje é, o seu contentamento. A mentalidade cresceu, tal qual cresce o cagarro: com dificuldades, trabalho árduo e uma enorme vontade de partir e de ficar nas ilhas.
Ninguém fica indiferente ao grito do cagarro, ou se apaixona ou se arrepia. Esses sons são a sonorização das nossas noites de Verão, como o verde é a cor dos nossos pedacinhos de terra.
Todos anos regressam à terra que os viu nascer, para ocupar os mesmos buracos naturais ou construídos, muito antes dos homens e mulheres que imigraram para as Américas regressarem, por não conseguirem passar um Verão sem o ar, o verde, o mar e o som açoriano.
As fases de desenvolvimento dos humanos podem ser comparáveis às fases de desenvolvimento do cagarro: cagarrito, cagarrinho, cagarro e cagarrão, todas elas agarradas a lava dispersa no mar.
Num arquipélago rejeitado por andorinhas, que aqui não pousam, a natureza entendeu arranjar um substituto que também vem do sul, mas do mar, porque as ilhas estão envolvidas pelo sal e pelo aroma do Atlântico.
As andorinhas açorianas vêem-se à noite, em pleno voo, ritmado pelos sons agudos das suas gargantas, por isso, sabemos que cá estão, mas dificilmente os sabemos descrever. O primeiro encontro de um homem com um cagarro, também é, normalmente, o primeiro encontro de um cagarro com um homem. Estão os dois em situação de igualdade, ambos assustados, ambos extasiados.
Precisamos crescer em conjunto.
Cresce cagarro, porque enquanto o fazes, também eu estou a crescer.

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A Azoriana atribuíu a este blog um trevo de quatro folhas, como "amuleto da sorte". Atribuo o mesmo a todos os blogs constantes na lista ao lado.

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2007-09-18

Noah’s Ark

The red list of IUCN is the roll of the inconvenient travellers, in a trip to the future.
For these folks,
The life doesn’t works.

2007-09-15

A nova Arca de Noé

Quase não há lugar.
A lotação está-se a esgotar.
O último a chegar,
Não vai entrar.

Para se conseguir uma entrada,
Será preciso “sex appeal”,
Vir logo de madrugada,
Preencher impressos mil.
Ainda se aceitam alguns “homo sapiens
De entre todos os primatas.
Por serem os grandes magnatas,
De toda a criação.
Não se confunda com “Mesochra rapiens
Que é um ser miserável,
Sem qualquer proveito palpável,
Ou estatuto de conservação.
Nega-se já a entrada:
A répteis repelentes,
A grifos descontentes,
A peixes minoritários,
E a todos os usuários
De farpelas indecentes.
Pr’a esses a porta está fechada.Não se aceitam candidaturas,
Daquelas criaturas,
De odor bafiento,
Ou por exemplo corais,
Em que já há mais de um cento,
Ou outros seres que tais,
Semelhantes ou iguais.Plantas exóticas são ameaça,
Para a nossa raça
Que se pretenda expandir.
Podem tornar-se infestantes.
Há que impor condicionantes,
Ás que pretendem aderir.
Atende-se a princípios democráticos
E a aspectos burocráticos,
Para conceder ingressos.
Entram golfinhos de água salgada,
Mas não de água doce infectada.
Tem as regras nos impressos.Vendem-se os últimos bilhetes,
P’ra Nova Arca de Noé.

Só os mais sexy’s entrarão na nave terra:

-Os de olhar doce e terno,
De alterno.
-Os de curvas bem delineadas,
E peles refinadas.
-Os de gosto requintado,
E cheiro apreçado.
-Os que são subservientes,
Que interessam aos dirigentes.
-Os de plumagem colorida.
A todo o resto nega-se a vida.

Félix Rodrigues
-Que espécie é para ti, carismática?

A IUCN – “The World Conservation Union” apresentou recentemente a Lista vermelha de espécies que em 2007 se encontram ameaçadas, criticamente ameaçadas e vulneráveis.
Actualmente são 41 415 as espécies constantes na Lista Vermelha da IUCN, e destas, 16 306 estão ameaçadas de extinção. São mais 188 espécies que entram nessa lista de 2006 para 2007.
De acordo com a classificação da IUCN, o gorila ocidental, por exemplo, passa da categoria de ameaçado para a categoria de criticamente ameaçado. A população dessa espécie reduziu-se 60% nos últimos 20 a 25 anos. O orangotango de Sumatra continua criticamente ameaçado e entra na categoria de ameaçado o orangotango de Bornéu.
Entram pela primeira vez na Lista Vermelha espécies de corais, nas categorias de criticamente ameaçados e vulneráveis, como o coral solitário de Wellington das ilhas Galápagos, que pode já estar extinto neste momento. As colónias deste coral foram desaparecendo à medida que a temperatura da água do mar foi aumentando pela intensificação do fenómeno “El Niño”. Também foi considerado criticamente ameaçado ou já extinto, pela primeira vez, o golfinho de água doce chinês.
Entraram na categoria de criticamente ameaçados o crocodilo indiano e nepalês, um grifo africano e outro egípcio, vítimas da poluição, algumas plantas endémicas das ilhas do Pacífico, ameaçadas pela subida da água do mar, o peixe cardinal da Indonésia e um bodião da Malásia pelo excesso de pesca e comercialização de espécies exóticas para aquários.
Algumas dessas espécies não tem “os olhos doces do Panda” para que possam despertar a nossa compaixão, mas são obras inigualáveis da natureza que merecem respeito, quanto mais não seja pelos milhões de anos de evolução que tiveram.
Neste nosso tempo somos responsáveis pelas entradas na nova Arca de Noé das espécies a preservar. É sobre nós que cai a responsabilidade da escolha dos animais que entram na nave Terra, porque também é nossa a responsabilidade da poluição, do desmatamento e da sobrepesca.
O ditado popular: “Quando vires as barbas do vizinho a arder põe as tuas de molho” pretende chamar-nos à atenção para o risco que corremos quando depreciamos ou subavaliamos o que nos rodeia. Sem vida animal e vegetal no mundo, nem nós conseguiremos sobreviver.
A Lista vermelha da IUCN é o rol dos indesejáveis numa viagem ao futuro.

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2007-09-12

To be, or not to be

We are time elementary particles.
Twilights of the future,
That when become inflated,
Are risked to frost it,
As the confines of the Universe,
Or to collapse,
For its enormous greed.
Félix Rodrigues

2007-09-08

Vida de Lavrador

“Verde são os campos,
Da cor do limão”,
Cuidar dos animais,
É o meu ganha-pão.

Fotografia de Ana Ribeiro
Anda cá minha vaca Malhada,
Vermelha, Preta, Amada.
As minhas vacas tinham nome,
Carácter, apelido e sobrenome.

Tinha meia-dúzia delas,
Que a todas conhecia,
Até que uma vez, um dia,
Disseram-me que teria
De fazer as “reviradelas”
Que a economia exigia.
Fotografia de Luis França


Deram-me um tractor,
Para a terra trabalhar,
Chamaram um doutor,
P’ra me vir aconselhar.
Ensinou-me uns pronomes,
E outras coisas que não sabia.
As vacas perderam os nomes,
Como da noite para o dia.

Comecei a adubar,
Tal como me disseram,
Depois de uns anos passar,
Vêm-me dizer, então,
Que o bom era estrumar,
Por causa da poluição.
Custou-me a acreditar,
Porque eram assim as sementeiras,
E que teria de voltar,
Por causa do encabeçamento,
Ao número de vacas leiteiras,
Que tinha lá noutro tempo.
Cheguei à simples conclusão:
À medida que o tempo passa,
O conhecimento que adquiri,
De geração em geração,
Não o vou abandonar,
Foi por ele que recebi,
Campos cor de limão,
P’ra ainda hoje trabalhar.

Félix Rodrigues
O que distingue a ruralidade da urbanidade?

O relacionamento do homem com o campo e com a natureza pode parecer bucólico, pode parecer poético, mas é essa visão menos tecnicista, menos economicista que leva a um respeito pela natureza, pelos outros e capaz de construir a serenidade que a vida rural tem.
Os tempos mudam e a ruralidade altera-se bem como os valores que englobava como o relacionamento inter-pessoal ou inter-geracional.
A produção animal, incentivada para ser intensiva, por políticas nacionais e internacionais, descaracterizou-se relativamente aquilo que era no passado, porque não atendeu às perspectivas de desenvolvimento incorporadas na mentalidade rural. Antes da produção animal massificada, até as vacas tinham nomes próprios, porque além dos seres humanos, também recebiam nomes próprios os demais seres vivos, mesmo sendo todos da mesma espécie.
Tal como afirmam Vidal e co-autores em 2007, antes de se direccionarem projectos é fundamental saber contextualizá-los, respeitar as idiossincrasias locais e articular a participação dos diferentes intervenientes em propostas de requalificação. É importante o reconhecimento dos seus direitos, experiências, saberes e, principalmente, o entendimento de que são os sujeitos que aí habitam que detêm responsabilidades na manutenção e gestão do seu espaço.

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2007-09-01

Vida de professor

Pega no giz.
Faz o que eu fiz,
E depois diz,
Se és feliz.

Desenha um ribeiro,
Que dê dinheiro,
Mas de verdade,
Que nos garanta sustentabilidade.
Copia um poema,
Que seja um dilema,
Entre a preservação
E a poluição.

Faz o balanço
Entre o deve e o haver,
P’ra dar a entender
O nosso falhanço
Ao cuidar da terra,
Que em si encerra,
O que te dá de comer.


Estou cansado,
De ser sonhador.
O educador,
Por mais esmerado,
É derrotado
Se não ensina o amor.

Por mais literacia,
Ou pedagogia,
Que tenha aprendido,
Não tem formação
P’ra ensinar a razão
Do amor escondido
No seu coração.

Venha quem vier,
Só verá se quiser,
Que o que eu sempre quis,
Foi que fosses feliz.
Félix Rodrigues
O que é que te custa ensinar?

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