Medusa
Foge do seu abraço.
Não ponhas a cabeça,
No seu regaço.Se a irmã mais bela,
Te parece confusa,
É um estratagema dela.
Não é Esteno ou Euríale,
É Medusa,
A mortal.
Não te tocou o amor,
É um presságio de dor,
Que se seguirá ao ardor,
Que julgaste ser rubor.
É veneno e não paixão,
O que te provoca a ilusão,
De querer sentir,
Ou mesmo possuir,
Uma bomba atómica biológica,
Em plena crise ecológica.
Actualmente o aquecimento global e a poluição contribuem para o aumento destes seres, e biliões destas criaturas invadem as praias e costas de praticamente todos os locais tropicais e subtropicais. E embora não tenham ossos, sangue e cérebro, algumas destas medusas estão equipadas com um autêntico arsenal mortífero. São belas: para apreciar à distância, são monstros, na intimidade.
A Physalia physalis (caravela portuguesa), por exemplo, não tem movimento próprio, flutua à superfície das águas, empurrada pelo vento, onde os seus tentáculos, debaixo de água, estão sempre prontos a envolver um peixe, necessário para a sua alimentação. Os seus tentáculos podem atingir os 30 metros de comprimento e interceptar-nos, num mergulho nas águas límpidas do Oceano. Essa medusa tem uma bonita cor azul e tentáculos cheios de células urticantes, aparecendo nas praias de todas as regiões tropicais.
O Professor João Pedro Barreiros do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores afirma que no topo dos animais marinhos que mais acidentes em humanos têm causado estão as caravelas portuguesas e as cifomedusas Pelagia noctiluca e Aurelia aurita.
Recentemente, têm sido observados grandes grupos de Physalia physalis nos Açores e um pouco por toda a parte, o que faz aumentar grandemente o risco de acidentes entre os banhistas.
Se pensamos que o homem é o ser que melhor se adapta a uma alteração do ambiente, enganamo-nos: as águas vivas serão capazes de nos superar.
A nossa acção no planeta está a levar-nos para um rumo perigoso: arriscamo-nos a que o mundo seja governado por seres sem ossos, sem sangue e sem cérebro. Perguntemo-nos: para que servem os nossos?
Etiquetas: águas vivas, Aquecimento global, Medusas