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2005-11-29

Para quê Quioto quando tudo está normal?

Para quê Quioto, quando tudo está normal aqui e agora?



Portugal: 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005.

Estados Unidos da América: Apenas em 2005.

Europa: 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005.

África e Ásia: 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005.

Pacífico: 2003, 2004, 2005.

Começar a apostar na redução dos gases de estufa e na

conversão das fontes de energia ainda é economicamente desvantajoso.

Links interessantes:

Alterações climáticas e riscos

A China apela à assinatura do Protocolo de Quioto

2005-11-25

Terão os fenícios descoberto os Açores?

Os Açores tem sido associados às mais variadas lendas portuguesas e europeias, até mesmo mundiais. Por vezes a história e a lenda tendem a confundir-se e a confundir-nos, por não sabermos onde acaba a realidade e começa a ficção.
Os Açores eram as ilhas encantadas do imaginário português, defendidos como os cumes das montanhas da Atlântida de Platão pelos perseguidores de mistérios, o El Dourado dos Piratas ingleses, a liberdade de Dom António Prior do Crato, o purgatório dos Filipes espanhóis e foram o trampolim asiático do americano Bush.
Afinal o que levou os portugueses até aos Açores? Acredito que mais do que tudo tenha sido a lenda.
Terão alguma vez os Vikings sonhado com ilhas encantadas? Certamente que sim.
Terão aqui chegado? Não digo, que certamente que não.
Os grandes comerciantes fenícios teriam capacidade de chegar aos Açores? Certamente que sim, por possuírem embarcações capazes de suportar tal viagem.
Terão os fenícios descoberto os Açores? Não digo outra vez certamente que não, sem todavia querer dizer, pela dupla negação, que certamente que sim.
A hipótese da presença dos fenícios nos Açores é mais provável do que a presença Viking, vejamos porquê.

Na antiguidade havia efectivamente conhecimento de algumas ilhas atlânticas e do litoral africano sendo traduzido em última instância pela lenda da Atlântida. A Atlântida é referida pela primeira vez em 421 antes de Cristo.

“O conhecimento da costa africana, teria resultado de algumas expedições realizadas de que se destacam: a primeira por ordem o faraó Necao II em 610 A.C., depois a viagem de Sataspes (480-470 A.C.) até à Guiné, e o périplo de Hanäo em 485 A.C.com sessenta navios desde Cartago, que teria percorrido a costa africana até Cabo Verde. Estas e outras viagens referenciadas não têm cativado o interesse da historiografia que se mostra renitente em aceitar a verdade dos relatos contidos nos textos clássicos. A Historiografia dos séculos XVIII e XIX afirmava peremptoriamente a veracidade destas informações e defendeu a ideia de que os fenícios projectaram o seu empório comercial na costa ocidental africana. Apenas os portugueses, pela voz dos seus eruditos mantiveram a tese de que esta área estava por revelar no início das navegações henriquinas”. (in Centro de Estudos de História do Atlântico). Fazendo fé na historiografia antiga, a probabilidade dos fenícios terem chegado ao Açores, é elevada.
Humboldt refere no "Examen Critique" que em 1749, uma tempestade violenta teria abalado as fundações de um edifício parcialmente submerso na ilha do Corvo. Quando o mar amansou, descobriu-se entre as ruínas, um vaso contendo moedas de ouro e cobre. Essas moedas foram levadas para um convento, algumas perderam-se, mas nove foram preservadas e enviadas ao padre Enrique Flores, em Madrid, que as deu a John Podolyn da Academia de Ciências de Estocolmo. Algumas moedas apresentavam a figura de um cavalo por inteiro, outras apresentavam somente a cabeça desse animal. Alguns peritos afirmam com suficiente grau de certeza que se tratam de duas moedas fenícias do norte de África, da colónia de Cirene, e de sete moedas cartaginesas.
É curioso constatar que duas das referências ao conhecimento dos Açores anteriores à chegada dos Portugueses, são Fenícias e ambas relativas à Ilha do Corvo. Na primeira metade de Quinhentos o historiador da corte de D. João III, Rui de Pina, conta que tinha sido enviado à mais pequena Ilha do Arquipélago o afamado arquitecto João de Urbina para recortar da pedra viva, num lugar de difícil acesso na orla costeira, uma estátua equestre de estilo cartaginês. A operação correu mal e estátua partiu-se, voltando a equipa ao reino só com algumas peças em pedra como a cabeça do cavalo e a mão do cavaleiro que apontava para Oeste. É sabido que os cartagineses erigiram diversas colunas comemorativas, por outro lado, o cavalo está presente em quase todas as suas cunhagens.
É relatado pelo Francês André Thevet, no século XVI, que um descendente mourisco ou judaico, encontrou uma inscrição com caracteres hebraicos numa gruta da ilha de São Miguel, durante a época dos Descobrimentos portugueses, mas não foi capaz de a ler, alguns supuseram tratar-se de caracteres fenícios.
Recentemente foi aventada a hipótese de se terem encontrado caracteres fenícios em rochas nas Quatro Ribeiras, na ilha Terceira. Alguns desses hipotéticos caracteres fenícios foram fotografados.
Os caracteres fenícios foram identificados como sendo:
O primeiro símbolo da esquerda para a direita representa água, o segundo, com a circunferência um pouco mais fechada representa uma cabeça, o terceiro, se invertido, representa palma da mão, e de novo, o último, a água.
Que mensagem poderá ser essa?
“Um homem, vindo pela água, conseguiu, com muito esforço, aqui chegar”?
Outra rocha “continha” os seguintes caracteres:
O primeiro caracter representa um anzol e o segundo um camelo.
A mensagem será “Um homem do Norte de África arriscou-se a pescar neste mar”?Foi observada outra rocha contendo a símbologia seguinte:
Cujo símbolo em fenício representa um marco.
As mensagens parecem confusas, porque a interpretação também o é.
Se se referir que as imagens foram obtidas aleatoriamente nas Quatro Ribeiras, com a intenção de captar apenas fracturas das rochas, e que essa símbologia era desconhecida do autor das fotografias, a escrita fenícia não será mais do que uma escrita da própria natureza. A confusão entre uma fractura rochosa e a escrita fenícia dependerá exclusivamente dos olhos de quem a vê. Assim, a escrita hebraica encontrada numa gruta de S. Miguel na altura das descobertas, muito semelhante à escrita fenícia que aqui se apresenta, poderá ter sido “fracturas rochosas pouco habituais”.
E a estátua equestre da ilha do Corvo? O Tenente Coronel José Agostinho intentou demonstrar que essa era uma ilusão de óptica.
Aos Açores foram atribuídos vários nomes estando associados inúmeros acontecimentos da mitologia grega. Talvez por isso mesmo, devido a esse misto de lenda e realidade, que os testemunhos históricos incorporam, os relatos não têm merecido o devido respeito científico.
Será que os Açores foram descobertos pelos fenícios? Continuamos a necessitar de provas.
Links relacionados:

2005-11-16

Poluição marinha: A ubiquidade do mercúrio.

O mercúrio é um metal pesado que é libertado para a atmosfera pela mineração, pela queima de carvão, ou incêndios florestais. Dada a sua capacidade de se converter, no ambiente, em metilmercúrio torna-se problemático em termos de saúde pública.

O ouro é o metal dos ricos, e o mercúrio tornou-se o metal dos pobres.


O garimpo, em regiões pouco degradadas como na floresta Amazónica no Brasil, ou nas florestas tropicais de África e até mesmo na Indonésia, está associado à pobreza e ao luxo das sociedades ocidentais. No garimpo artesanal não há recuperação do mercúrio que dissolve o ouro. Este é evaporado para a atmosfera ou então depositado directamente nos cursos de água que de uma forma ou outra acabam por atingir os Oceanos, onde este metal é bioacumulado pelo fictoplancton, zooplancton, algas e peixes que os povoam. Os níveis de mercúrio nos Oceanos tem aumentado drasticamente nas últimas décadas.

Contribuem grandemente para os níveis de mercúrio nas águas dos Oceanos, as emissões atmosféricas resultantes da queima do carvão vegetal e mineral em centrais termoeléctricas, existentes em praticamente todo o mundo.

Na última década, a industrialização da China têm levado a um incremento substancial de mercúrio na atmosfera e nas águas dos Oceanos. De seguida apresentam-se as emissões anuais de mercúrio estimadas para o Globo.

Ásia – 1138 toneladas por ano
Europa - 326 toneladas por ano
África- 246 toneladas por ano
América do Norte- 188 toneladas por ano
América Central e do Sul- 176 toneladas por ano
Oceânia – 48 toneladas por ano

O mercúrio, como poluente marinho, vai sendo acumulado na cadeia trófica. Na figura seguinte tenta-se esquematizar essa acumulação.


Os principais riscos de saúde pública associados à bioacumulação do mercúrio são:
Riscos de danos cerebrais nos fetos.
Riscos de agravamento da doença de Alzheimer.
Riscos de paralesia cerebral
Riscos de diminuição da memória
Riscos de problemas cardiovasculares
Riscos de Cancro

A prevenção pessoal, de contaminação por mercúrio, pode ser implementada, principalmente em grupos de risco por:

Não consumir grandes predadores como o tubarão.
Redução do consumo de atum.
Redução do consumo de peixes de profundidade.
Redução do consumo de Salmão
Redução do consumo da solha.

Os peixes mais saudáveis são normalmente:
A Sardinha.
O Chicharro (carapau).
Os Peixes de superfície, pescados em áreas de pouca pressão antrópica.

Associadas às emissões antropogénicas de mercúrio que se depositam nas águas dos Oceanos, ainda existem as emissões naturais, normalmente resultantes da desgaseificação magmática, ou seja, de emissões vulcânicas submarinas.

Cada vez mais se exige conhecer para consumir. Cada vez mais se exige conhecer os ciclos naturais dos poluentes, cada vez mais se exige conhecer os prós e os contras de uma determinada actividade.
Será que todo o peixe faz bem à saúde?

Será que o consumidor não tem o direito de saber o grau de contaminação do peixe que compra?
Será importante conhecer o local onde o peixe foi apanhado?

Será que o ouro tem associado o preço dos impactos ambientais que produz?

Será que o ouro e a industrialização justifica todo o tipo de emissões?

Links interessante sobre a mesma temática:
Blog do Jeso Carneiro

Blog da Floresta da Índia Ursa Sentada

2005-11-10

Bífidos Activos, L. casei, omega 3, polinsaturados: Isso come-se?

Entramos na era dos probióticos, dos ácidos gordos polinsaturados, da família dos ácidos gordos Omega 3, dos betacarotenos e muitos outros microrganismos e substâncias que hão-de aperecer à venda em qualquer supermercado.

Os probióticos como os bifidos activos, são bactérias do género Bifidus, que fazem parte dos lactobacilos como o Lactobacillus bulgaricus e o Streptococcus thermophilus que são uteis efectivamente ao organismo, por colonizarem a flora intestinal e vaginal. São especialmente aconselhados a quem tem problemas como diarreias infecciosas ou vaginites.

Um número significativo de consumidores compra “Bífidos activos”, mas não faz a mínima ideia do que se trata, porque o produto tem-lhe sido vendido, como uma maravilha da tecnologia alimentar. É importante tomarem-se bífidos activos, quando se faz com alguma regularidade tratamentos com antibióticos, que pela sua acção danificam grandemente a flora intestinal e vaginal.

A L. Casei (Lactobacillus casei ) é outra bactéria lactea descoberta no Japão em 1935, que auxilia a digestão. E o yogurte bioactivo? Este contêm a bactéria Streptococcus thermophilus.

Bífidos activos, L. Casei e Streptococcus thermophilus, são maravilhas da ciência? Não. São maravilhas da natureza, alvo de campanhas publicitárias aguerridas. Acontece que poucos foram aqueles que se lembraram de as adicionar em quantidades adequadas aos alimentos e de as patentear.

Apesar dessas bactérias terem nomes semelhantes ao das “más bactérias”, são efectivamente “boas bactérias”.

Porque não se comercializa o Keffir que contêm umas boas dezenas de bactérias diferentes e com benefícios na saúde ainda parcialmente desconhecidos? Parece que combate a diabetes, parece que ajuda à recuperação da flora intestinal, parece muita coisa, muitas mais do que a L. casei, as Biffidus e as Streptococcus thermophilus.
O Keffir não foi patenteado porque foi uma descoberta acidental, realizada no Caucaso, e até agora essa mistura de bactérias parecem ter-se recusado a serem industrializadas. Obrigam a que a troca se faça quase porta a porta, obrigando vizinhos a conviver e partilhá-las.

E os omega 3? Não são bactérias, mas sim ácidos gordos que aparecem em óleos ditos essenciais. Parece que controlam a pressão sanguínea, parece que tem uma função imunológica, parece que previne o envelhecimento da pele, e como não queremos morrer e parecer eternamente jovens, consumimo-las. Cada antioxidante e cada ácido gordo que aparece no mercado, quase que tem garantia de sucesso, se estiver associado a determinado produto alimentar. Essa tem sido a lógica de muitas multinacionais.


A grande maioria dos próbioticos, dos antioxidantes e dos ácidos gordos tem muito sucesso porque cada vez se come pior. O “Fast food”, os alimentos ricos em gorduras, a eliminação da sopa da nossa alimentação, torna-nos cada vez mais dependentes dos bífidos activos, do iogurte bioactivo, dos omega 3, etc, etc.

Enquanto não conseguimos alterar a qualidade da alimentação da sociedade actual, porque não aproveitamos para promover os nossos produtos?

Numa tese de Mestrado em Produção Animal da Universidade dos Açores, demonstrou-se que a carne de coelho bravo contêm níveis elevados de ácidos gordos essenciais e possui uma baixa taxa de colesterol, comparativamente à carne de porco, vaca e galinha. Suspeita-se que a maior quantidade em ácido linolénico na carne de coelho bravo açoriano esteja relacionada com uma alimentação rica em ácido linolénico, disponibilizada pelas pastagens verdes luxuriantes onde estes habitam. Se até os coelhos se sabem alimentar, porque teimamos em comer de modo desiquilibrado? Por outro lado, a carne de coelho não deveria passar a ter um maior valor acrescentado, na sociedade “publicitodependente” actual?

Noutra tese do mesmo Mestrado da Universidade dos Açores, conclui-se que a carne de vaca alimentada com trevo violeta tem maiores conteúdos de ácidos gordos polinsaturados comparativamente com os animais que receberam apenas silagem de erva. Esse tipo de trabalhos, cria valor acrescentado ao produtos Portugueses e mercado para os produtos nacionais. Porque razão nos demostramos, quase sempre inaptos para utilizar essa informação? Será que não somos “publicitodependentes” como os outros?
Se a guerra é essa, não deveríamos ir à guerra?

2005-11-07

A paz fala árabe, com sotaque a energia atómica

O Prémio Nobel da Paz de 2005 foi atribuído, em partes iguais, à Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA) e ao seu Director Geral, de nacionalidade egípcia, Mohamed ElBaradei.

Desde algumas décadas que a Agência Internacional de Energia Atómica, inspecciona a segurança de materiais e dispositivos nucleares, contribuindo por essa via para o esforço mundial de não proliferação de armas nucleares.


A atribuição do prémio Nobel à IAEA, por promover a utilização pacífica da energia nuclear é praticamente incontestável “Atoms for Peace”, ainda mais se lhe adicionarmos os contributos humanitários que tem dado aos países do terceiro Mundo ou em vias de desenvolvimento.


A IAEA tem promovido a investigação em medicina nuclear bem como em técnicas como a biologia nuclear, a tomografia de emissão de positrões, dosimetria e física da radiação, para além do apoio humanitário prestado em alguns países da Ásia e África, onde instalou centros de tratamento de cancro por radioterapia.Grande também tem sido o esforço da Agência Internacional de Energia Atómica no combate à pobreza e à poluição. Praticamente todos os países receberam apoio (entre os quais se encontra Portugal e também a Região Autónoma dos Açores) para investigar, pela utilização de isótopos ambientais como o deutério e o oxigénio 18, zonas de recarga de aquíferos, contaminação de cursos de água e composição isotópica da água da chuva ( via o programa GNIP-Global Network of Isotopes in Precipitation) cujas análises do território português são feitas actualmente no Instituto Tecnológico e Nuclear. Foi pelo facto de existir essa rede mundial que se detectou um grande incremento de trítio na precipitação da Suécia e que levou a que o Mundo tivesse tido conhecimento do acidente de Chernobyl.


A recente disponibilização dos dados da composição isotópica da água da chuva, à comunidade mundial, permitiu verificar, entre muitos outros aspectos, os grandes incrementos de trítio na água da chuva em Portugal, resultante do “fallout” radioactivo da década de 60. Os níveis de trítio na água da chuva dos Açores ultrapassaram as 1400 unidades de trítio (os níveis ambientais actuais situam-se entre as 2 e as 5 unidades de trítio). A decisão de tornar público todos esses dados permitiu, e permite, um apoio mundial à causa “Atoms for Peace”.


O programa da IAEA de combate à pobreza também passou, e passa, pela formação de técnicos especializados e pela aplicação de técnicas nucleares ao combate de pragas como a mosca Tsé-Tsé, no Yemen, Somália, Etiópia, Quénia, entre outros países africanos. O combate a pragas de insectos por técnicas nucleares foi proposto por Knipling na década de 60, já que a radiação ionizante de uma fonte radioactiva de cobalto 60 poderá produzir a esterilização dos insectos. Assim, são produzidos, numa biofábrica, machos, que são submetidos a radiação, esterilizados, e depois lançados no meio ambiente. Os machos estéreis competirão com os machos não estéreis presentes no ambiente produzindo uma redução da população de insectos se a fêmea for monogâmica.


Todos esses programas de interesse humanitários iniciaram-se antes da Direcção de Mohamed ElBaradei. O que distingue então essa Direcção das anteriores?


Mohamed ElBaradei desempenhou um importante papel no período anterior ao conflito do Golfo. Defendeu nas Nações Unidas a tese de que o Iraque não tinha armas nucleares e não se inibiu de afirmar que as razões dos Estados Unidos da América para atacar esse país não eram certamente o “perigo das armas nucleares iraquianas”. Demonstrou com essas afirmações segurança e honestidade. Tais afirmações não surtiram qualquer efeito no início do conflito, mas certamente forneceram-lhe poder na mediação de outros conflitos do género, como é exemplo o recente conflito de desnuclerização da Coreia.


Seria essa a forte razão para que o Comité Nobel atribuísse o prémio a Mohamed ElBaradei em detrimento dos outros Directores da IAEA?


A atribuição do Nobel da Paz a Mohamed ElBaradei é certamente uma “bofetada sem mão” (expressão Terceirense) ao mundo ocidental, mais propriamente aos Estados Unidos da América e a George Bush.


Será que o facto de Mohamed ElBaradei ser árabe pesou na decisão do Comité Nobel? A escolha deste Homem poderá querer representar o Mundo Árabe, que tem sido incompreendido e ás vezes ostracisado pelo ocidente?


Será que o Comité Nobel achou que o prémio da Paz deste ano, deveria falar árabe, com sotaque a energia atómica, por ter sido essa a tónica da guerra de 2001-2005?

2005-11-06

Terramoto de Lisboa em 1755: Ciência, História e Contradições


Por volta das nove e meia da manhã, de 1 de Novembro de 1755, a terra começou a tremer originando a maior catástrofe de que havia memória na Europa, destruindo a grande cidade de Lisboa (José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra). Uma hora, a hora e meia após o terramoto de Lisboa, seguiu-se um maremoto que atingiu esse mesmo local, afirma o filósofo Immanuel Kant. No Algarve o terramoto começou a sentir-se às 9 horas da manhã (Gazeta de Lisboa).
“Sentido em toda a Europa, o maremoto atingiu Haia e Amesterdão na Holanda, entre as 11 horas e o meio-dia, bem como outras partes do Norte da Europa, incluindo as ilhas Britânicas” (José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra).
Na Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, o maremoto atlântico atinge a cidade de Angra do Heroísmo à mesma hora do terramoto de Lisboa (Francisco Ferreira Drumond) e cerca de vinte minutos mais tarde, atinge a cidade da Horta na ilha do Faial (Gaspar Frutuoso).
Na Madeira o maremoto atinge as Desertas destruindo parcialmente a Deserta Grande, tendo subido as águas a Sul desta ilha cerca de 3 m, e a norte, observou-se um abaixamento das águas até 100 m da costa (autor desconhecido).

Com base nestes dados, admitindo que a hora a que os vários autores se estão a referir é a hora solar (cerca de 1hora e meia a menos nos Açores do que em Lisboa) e que se trata do mesmo evento, o maremoto de Lisboa atinge a ilha Terceira nos Açores ao mesmo tempo que atinge Lisboa. Isso faria localizar o epicentro desse evento sensivelmente à mesma distância dos Açores e de Lisboa.

Uma equipa do IST publicou um artigo onde afirma que teriam existido dois sismos praticamente simultâneos: um com origem no banco de Gorringe, a 350 km de Lisboa, e um outro sequência do primeiro que ocorreu na falha do Vale Inferior do Tejo. Essa hipótese não é corroborada pelos dados históricos, se admitirmos tratar-se de um só evento. Por outro lado, os dois sismos referidos por essa equipa não explicam a simultaneidade dos maremotos de Lisboa e Açores, haveria necessidade de introduzir nessa teoria um terceiro epicentro.

Se admitirmos de novo como correctos os registos da hora dos acontecimentos de Angra do Heroísmo e Horta, verificaríamos que a onda do maremoto se deslocou a cerca de 450 km/h, o que parece ser uma velocidade razoável já que as ondas de maremotos se deslocam normalmente entre os 400 km/h e os 600 km/h.

Por outro lado, a velocidade típica de propagação de ondas sísmicas situa-se entre os 6 e os 8 km/s. Tendo-se registado o terramoto que atingiu o Algarve cerca das 9 horas da manhã e tratando-se do mesmo evento que originou o terramoto de Lisboa, essa ondas teriam viajado a uma velocidade de cerca de 0,1 km/s, o que é manifestamente atípico. Fazendo fé nos dados históricos, haveria que acrescentar um outro epicentro, para outro evento e já estaríamos a falar de quatro eventos distintos.

A localização do epicentro do terramoto de 1755 na falha Açores-Gibraltar, num ponto equidistante dos Açores e Lisboa ajudaria a explicar parte desses acontecimentos, mas não explicaria o facto do maremoto ter atingido a ilha da Madeira pelo Sul.

Os trabalhos que apontam para o epicentro do terramoto de 1755, um ponto a 200 km do Cabo de São Vicente, não estão de acordo com os dados históricos.

Admitindo de novo tratar-se de um único evento geológico, associado ao terramoto de Lisboa de 1755, e que o maremoto que atingiu Lisboa foi o mesmo que atingiu os Açores e a Holanda, esse só seria sentido em Haia, 4 horas após ter-se manifestado em Lisboa. Assim sendo, o maremoto Holandês deveria ter sido registado pelas 4 horas e meia da tarde de Haia e nunca entre as 11 e o meio-dia. Se houve tentativa dos historiadores referenciarem o evento à hora de Lisboa, ele deveria ter sido referido como tendo ocorrido por cerca das três horas da tarde e nunca entre as 11 horas da manhã e o meio dia. A admitirmos como correctos esses registos, o maremoto atingiu em simultâneo, Lisboa, Açores e Holanda. Tal facto, não permite explicar porque razão as águas do maremoto atingiram a Madeira, a ilha Terceira e a ilha do Faial, pelo Sul, resultante do relato de três historiadores distintos. A serem fidedignos os registos holandeses, haveria que considerar ainda um outro epicentro para além dos anteriormente descritos.

Que terá realmente acontecido no Atlântico nessa data?

Face ao devastador efeito do terramoto de 1755, não terá havido uma identificação em todo o Mundo com a dor produzida por essa catástrofe e assim ao referir o acontecimento pretender dar-lhe uma amplitude mundial? Os historiadores afirmam que o maremoto se sentiu na Alemanha, Holanda, Irlanda, Grã-Bretanha, Suécia, Dinamarca, França, Suíça, Áustria, Espanha, Marrocos, Madeira, Açores e na ilha de Barbados.

Não terá a visão deste acontecimento, como sendo “um castigo Divino”, influenciado a descrição dos factos? A história e a ciência parecem teimar em se contradizer.