Os Açores tem sido associados às mais variadas lendas portuguesas e europeias, até mesmo mundiais. Por vezes a história e a lenda tendem a confundir-se e a confundir-nos, por não sabermos onde acaba a realidade e começa a ficção.
Os Açores eram as ilhas encantadas do imaginário português, defendidos como os cumes das montanhas da Atlântida de Platão pelos perseguidores de mistérios, o El Dourado dos Piratas ingleses, a liberdade de Dom António Prior do Crato, o purgatório dos Filipes espanhóis e foram o trampolim asiático do americano Bush.
Afinal o que levou os portugueses até aos Açores? Acredito que mais do que tudo tenha sido a lenda.
Terão alguma vez os Vikings sonhado com ilhas encantadas? Certamente que sim.
Terão aqui chegado? Não digo, que certamente que não.
Os grandes comerciantes fenícios teriam capacidade de chegar aos Açores? Certamente que sim, por possuírem embarcações capazes de suportar tal viagem.
Terão os fenícios descoberto os Açores? Não digo outra vez certamente que não, sem todavia querer dizer, pela dupla negação, que certamente que sim.
A hipótese da presença dos fenícios nos Açores é mais provável do que a presença Viking, vejamos porquê.
Na antiguidade havia efectivamente conhecimento de algumas ilhas atlânticas e do litoral africano sendo traduzido em última instância pela lenda da Atlântida. A Atlântida é referida pela primeira vez em 421 antes de Cristo.
“O conhecimento da costa africana, teria resultado de algumas expedições realizadas de que se destacam: a primeira por ordem o faraó Necao II em 610 A.C., depois a viagem de Sataspes (480-470 A.C.) até à Guiné, e o périplo de Hanäo em 485 A.C.com sessenta navios desde Cartago, que teria percorrido a costa africana até Cabo Verde. Estas e outras viagens referenciadas não têm cativado o interesse da historiografia que se mostra renitente em aceitar a verdade dos relatos contidos nos textos clássicos. A Historiografia dos séculos XVIII e XIX afirmava peremptoriamente a veracidade destas informações e defendeu a ideia de que os fenícios projectaram o seu empório comercial na costa ocidental africana. Apenas os portugueses, pela voz dos seus eruditos mantiveram a tese de que esta área estava por revelar no início das navegações henriquinas”. (in Centro de Estudos de História do Atlântico). Fazendo fé na historiografia antiga, a probabilidade dos fenícios terem chegado ao Açores, é elevada.
Humboldt refere no "Examen Critique" que em 1749, uma tempestade violenta teria abalado as fundações de um edifício parcialmente submerso na ilha do Corvo. Quando o mar amansou, descobriu-se entre as ruínas, um vaso contendo moedas de ouro e cobre. Essas moedas foram levadas para um convento, algumas perderam-se, mas nove foram preservadas e enviadas ao padre Enrique Flores, em Madrid, que as deu a John Podolyn da Academia de Ciências de Estocolmo. Algumas moedas apresentavam a figura de um cavalo por inteiro, outras apresentavam somente a cabeça desse animal. Alguns peritos afirmam com suficiente grau de certeza que se tratam de duas moedas fenícias do norte de África, da colónia de Cirene, e de sete moedas cartaginesas.
É curioso constatar que duas das referências ao conhecimento dos Açores anteriores à chegada dos Portugueses, são Fenícias e ambas relativas à Ilha do Corvo. Na primeira metade de Quinhentos o historiador da corte de D. João III, Rui de Pina, conta que tinha sido enviado à mais pequena Ilha do Arquipélago o afamado arquitecto João de Urbina para recortar da pedra viva, num lugar de difícil acesso na orla costeira, uma estátua equestre de estilo cartaginês. A operação correu mal e estátua partiu-se, voltando a equipa ao reino só com algumas peças em pedra como a cabeça do cavalo e a mão do cavaleiro que apontava para Oeste. É sabido que os cartagineses erigiram diversas colunas comemorativas, por outro lado, o cavalo está presente em quase todas as suas cunhagens.
É relatado pelo Francês André Thevet, no século XVI, que um descendente mourisco ou judaico, encontrou uma inscrição com caracteres hebraicos numa gruta da ilha de São Miguel, durante a época dos Descobrimentos portugueses, mas não foi capaz de a ler, alguns supuseram tratar-se de caracteres fenícios.
Recentemente foi aventada a hipótese de se terem encontrado caracteres fenícios em rochas nas Quatro Ribeiras, na ilha Terceira. Alguns desses hipotéticos caracteres fenícios foram fotografados.
Os caracteres fenícios foram identificados como sendo:
O primeiro símbolo da esquerda para a direita representa água, o segundo, com a circunferência um pouco mais fechada representa uma cabeça, o terceiro, se invertido, representa palma da mão, e de novo, o último, a água.
Que mensagem poderá ser essa?
“Um homem, vindo pela água, conseguiu, com muito esforço, aqui chegar”?
Outra rocha “continha” os seguintes caracteres:
O primeiro caracter representa um anzol e o segundo um camelo.
A mensagem será “Um homem do Norte de África arriscou-se a pescar neste mar”?Foi observada outra rocha contendo a símbologia seguinte:
Cujo símbolo em fenício representa um marco.
As mensagens parecem confusas, porque a interpretação também o é.
Se se referir que as imagens foram obtidas aleatoriamente nas Quatro Ribeiras, com a intenção de captar apenas fracturas das rochas, e que essa símbologia era desconhecida do autor das fotografias, a escrita fenícia não será mais do que uma escrita da própria natureza. A confusão entre uma fractura rochosa e a escrita fenícia dependerá exclusivamente dos olhos de quem a vê. Assim, a escrita hebraica encontrada numa gruta de S. Miguel na altura das descobertas, muito semelhante à escrita fenícia que aqui se apresenta, poderá ter sido “fracturas rochosas pouco habituais”.
E a estátua equestre da ilha do Corvo? O Tenente Coronel José Agostinho intentou demonstrar que essa era uma ilusão de óptica.
Aos Açores foram atribuídos vários nomes estando associados inúmeros acontecimentos da mitologia grega. Talvez por isso mesmo, devido a esse misto de lenda e realidade, que os testemunhos históricos incorporam, os relatos não têm merecido o devido respeito científico.
Será que os Açores foram descobertos pelos fenícios? Continuamos a necessitar de provas.
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