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2006-12-30

O meu chapéu cinzento

Recebi como prenda de Natal o "Meu chapéu cinzento" de Olivier Rolin, com o subtítulo "Pequenas geografias". Uma oferta singular, de alguém desconhecido, trazida em mão por uma simpática cara, talvez um anjo, esse sim, conhecido. Foi uma surpresa muito agradável engendrada pela Tânia que conheci na rápida escrita, na efemeridade de um clic ou na repentina ligação de uma arroba (@).
A Tânia levou-me mentalmente até outro recente encontro, que primeiramente virtual se materializou em pessoa definida, com rosto delineado e alma singular. Levou-me a recordar uma conversa recente com a Cristina Oliveira no aeroporto de Ponta Delgada, em dia de mau tempo. Espantados com a forma como nos tinhamos cruzado, dizia-lhe que "todos os caminhos se cruzam e que por vezes não parávamos nesse cruzamento". A Cristina registou-o, por isso me lembro desse pensamento efémero, mais pelo gesto dela do que pelo conteúdo da frase.
Que surpresas agradáveis tem a blogosfera!
Que surpresa agradável foi ler "O meu chapéu cinzento", não só por ter um capítulo dedicado ao Arquipélago Açoriano, mas pela referência a locais por onde já passei e dos quais tenho quase as mesmas referências e as mesmas impressões. A visita a esses locais resultou do acaso e por acaso também, recebo da Tânia a sua pequena geografia: Coincidências ou telepatia!?
O estilo de Rolin é muito agradável, faz por exemplo um retrato quase intemporal das ilhas e gentes açorianas. As descrições de São Miguel, Pico, Faial e Flores, tanto se enquadram no século XIX como no século XX ou século XXI. É o I romano, o relógio do tempo e onde os XX parecem não ter qualquer significado. É o I romano que afirma que o presente das ilhas não existe se esquecermos o seu passado, a história, a memória das suas gentes e as saúdades que têm da sua mocidade. Nas ilhas "as estradas de pavimentos negros trepam pelo flanco de velhos vulcões, perdem-se por instantes na névoa cinzenta, sobranceiras às crateras afogadas em água turquesa ou de um esmeralda perfeito, descem em direcção às manchas de oceano onde desliza a sombra leitosa das nuvens".

"O meu chapéu cinzento" faz os Açorianos prisioneiros do Anticiclone e arranca-nos para uma viagem de poesia geográfica natural e humana.

A Tânia e Olivier Rolin, chamaram-me à atenção, pelo gesto delicado e desconcertante da primeira e pela visão singular dos locais do segundo, para a necessidade de pararmos mais vezes nos cruzamentos das nossas vidas, mesmo que virtuais.


Félix Rodrigues
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Qual foi a prenda que te supreendeu na última quadra festiva?

2006-12-24

É mais fácil fazer a guerra do que manter a paz

Por cada criatura que tomba,
é menos uma voz discordante
com que a nossa se confronta.
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Em nome da democracia,
ou da vontade do povo,
se faz a guerra.
Há tanta hipocrisia.
Essa máquina nunca emperra.
É afinal a minoria governante
que decide pela maioria não actuante.
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É tão fácil fazer guerra, basta:
- Não haver esforço para entender os outros;
-Pensar-se que a uns cabem os direitos e aos outros, os deveres;
Pensar que o que se dá é mais valioso do que se recebe;
-Acreditar que Deus está de um lado e longe do outro,
quando Ele não deixou uma carta escrita
e não tem por quem a mande.
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Fazer a paz é saber ouvir,
meditar,
partilhar,
saber sorrir
e acreditar.
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Que se faça uma guerra contra a guerra,
Que se ame os que vêem diferente,
Que se entenda o pertinente,
Que não se seja demente,
Que não se fique dormente.
Viva o futuro! Abaixo o presente!
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Com a guerra resolvem-se as diferenças num minuto,
Fazer a paz, é preciso ser astuto,
Dar o seu contributo,
Para um novo amanhecer.
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Fazer a paz dura uma vida inteira,
É preciso ter alma guerreira,
Daquelas onde crescem rosas,
ou flores preciosas,
Daquelas que sabem esperar,
até um novo Sol raiar.
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Félix Rodrigues
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Feliz 2007 para todos, cheio de muita paz.

2006-12-16

E se o Menino Nascesse Agora?

Se o menino nascesse agora,
não seria como outrora.
Nasceria numa lixeira,
no meio de muita sujeira.
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Teria um caixote como cama,
uma manta de jornais,
o chão coberto de lama,
onde comeriam animais.
Em vez da vaca, um ratinho,
Em vez do burro, uma gaivota.
Nem a sua mãe devota,
se sentaria num banquinho.
.
Os Reis Magos percorriam
mais quilómetros no deserto,
num rumo tão incerto,
quanto os cientistas previam
para a desertificação do Planeta.
Mesmo que passasse um cometa,
McNaught de seu nome,
que os pudesse guiar,
o que ouviriam ribombar,
seriam mísseis de cruzeiro,
que os estariam a iluminar,
no meio daquele bodegueiro.
.
Metidos numa carripana,
com o símbolo da Cruz Vermelha,
queriam acender a centelha,
da triste raça humana.
.
Levariam leite, arroz e feijão,
para ofertar ao menino,
que tão cedo e pequenino,
se abrigava em papelão.
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Herodes já não existiam,
para fazer mal à criança,
mas os reis insistiriam,
que procedessem à mudança,
Por estradas poeirentas,
envergando vestes sebentas.
Chegariam extenuados,
ao campo de refugiados.
.
Apareceria na televisão,
como o menino do papelão.
Os seus cinco minutos de fama,
não lhe valeriam uma cama.
Dormiria sempre no chão.
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Passados dois mil anos................
.
Comemorar-se-ia com grande festança,
o nascimento de uma simples criança:
um triste, um desgraçado,
que morreu asfixiado,
pela poluição produzida,
por uns homens muito "beras",
que foram autênticas feras,
da economia vigente.
Fizeram mal a muita gente.
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Com o pecado já expurgado,
os filhos daquela gente,
decerto teriam encontrados,
respeito por si e pelo ambiente.
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Félix Rodrigues
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Votos de Boas Festas para todos.

2006-12-09

Ando Polar

Ando Polar.
Não é própriamente do frio que me enregela as articulações ou do piaço que se instalou no sistema respiratório. Sinto arrepios na coluna vertebral, como se estivesse a ser possuído por uma estranha e desconhecida força. Há quem lhe chame intuição. Para intuir há que saber ler os sinais daquilo que nos rodeia. Por vezes pergunto-me se sei lê-los adequadamente. Terei intuição?
Desconfio que os arrepios que sinto sejam mais descargas eléctricas inconscientes do cérebro do que o efeito físico das baixas temperaturas deste fim de Outono.
Experimento de vez em quando uma sensação de pés molhados, de desconforto genético, por vezes, de impotência.

O mar, por aqui, ainda não subiu como nas Tuvalu, para que sinta os pés molhados. Sou um animal que deveria sentir-se orgulhoso da sua espécie, mas por vezes e estranhamente, sinto-me desiludido. Sinto-me, simultaneamente impotente por não conseguir unir vontades, ou até mesmo alterar algumas das minhas vontades, de modo a reequilibrar o mundo.

Ainda não chegaram pinguins aos Açores, ou mesmo a Fernando de Noronha, por isso, a minha sensação de frio não é resultado directo do degelo da Antártida.

Lisboa continua não sendo uma nova Veneza, para que, por empatia com a minha Capital, sinta o desconforto dos pés molhados. Mas sinto-me polar. Ah! Isso sinto-me!

Félix Rodrigues
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Nota - 2007 é por inúmeras razões o Ano Polar Internacional, ou em português, aqui, onde está a ser lançado o Projecto Latitude 60 em Portugal.
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E você, têm-se sentido polar?