Litoral ameaçado
Nem uma costa sem mar.
Se o mar embravescer,
A terra vai gemer.
Ainda há gente que aposta,
Que este nada pode mudar.
Fazem as suas casinhas,
Branquinhas, à beira-mar,
Para que das janelinhas,
O mar possam olhar:
Vêem lampejos no céu,
Barquinhos a navegar,
As aves que Deus nos deu,
E as vagas a rebentar.
Sentem a ressalga no ar,
A areia na praia a dourar,
Aves que soltam lamentos,
Empurradas pelos ventos,
Que a terra vem parar.
As nuvens brancas mutáveis,
Tornaram-se negras, grosseiras,
No meio de brumas instáveis,
Caiem águas arruaceiras.
Reza-se para o mar não subir,
P’ra não ter que carpir,
A perca da sua casinha,
Que já deixa a cor branquinha,
De tanto o mar a fustigar,
Ou sem dó, a derrubar.
Será preciso um Plano,
Pois de ano para ano,
Na terra o mar vai entrar,
E o litoral conquistar.
Félix Rodrigues
Vila do Porto - Santa Maria, 28 de Setembro de 2008.