Cocaína
Sonhei ser gente,
Feliz e útil,
E não consegui esperar.
Quis experimentar sê-lo,
Senti-lo, mesmo artificialmente.
Pareceu-me entrar a vida pelas veias,
Ou talvez pelo espírito.
Vivi, morrendo.
Vivo, sentia-me só,
Morto, também.
Feliz e útil,
E não consegui esperar.
Quis experimentar sê-lo,
Senti-lo, mesmo artificialmente.
Pareceu-me entrar a vida pelas veias,
Ou talvez pelo espírito.
Vivi, morrendo.
Vivo, sentia-me só,
Morto, também.
.
Senti fugir-me a vida, enquanto vivo.
Senti desprezarem-me o corpo, depois de morto.
Senti enterrarem-me vivo,
Senti desenterravam-me para exemplo.
Fiz este poema:
Um poema de quem não vive.
Um poema de quem já está morto.
.
Se o mundo fosse um melhor lugar,
teria sido a minha cocaína.
Félix Rodrigues
.
A família, os amigos e a natureza são a minha cocaína, e a tua, qual é?