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2009-12-26

Ano Internacional da Astronomia - Dia 349 "Folhinha da Terceira"

Félix Rodrigues

A “Folhinha da Terceira para o ano de 1832: Bixesto" do Museu de Angra do Heroísmo, é um pequeno almanaque, com semelhanças a uma agenda, editada por Simão José da Luz Soriano com colaboração de José António Guerreiro e de Bernardo de Sá Nogueira, onde também se dá conta das evoluções da expedição liberal e que contém anotações do próprio autor. Foi editada em Angra do Heroísmo pela Imprensa do Governo. Conhecem-se pelo menos três edições da Folhinha da Terceira, referentes a 1830,1831 e 1832.
Na imagem seguinte apresenta-se a contracapa da Folhinha da Terceira, propriedade do Centro de Conhecimento dos Açores.
Logo nas primeiras páginas da Folhinha da Terceira de 1832 dá-se conta dos principais eventos astronómicos do ano: eclipses do Sol e o trânsito do planeta Mercúrio pelo disco solar. As informações aí contidas, referentes aos eclipses do Sol e trânsito de Mercúrio são correctas, do ponto de vista prático mas não exactas, levando-nos a concluir que existia na ilha gente que acompanhava esses fenómenos e que inclusivamente os estudava. Na figura seguinte apresenta-se uma imagem da página onde se referem esses fenómenos astronómicos.
Os eclipses solares não são fenómenos muito comuns e menos comum é ter duas ocorrências num só ano. Os eclipses lunares são mais comuns, sendo pouco provável a não ocorrência de nenhum eclipse lunar num ano. Assim sendo, poderia considerar-se que o ano de 1832 seria um ano astronomicamente raro no que se refere aos eclipses lunares. A informação referente aos eclipses lunares na Folhinha da Terceira para 1832, não está correcta, pois nesse ano existiram, tal como neste ano de 2009, quatro eclipses lunares: 17 de Janeiro, 16 de Fevereiro, 12 de Julho e 11 de Agosto. Poderia pensar-se que a não referência aos eclipses penumbrais da Lua na Folhinha da Terceira para o ano de 1832, resultariam do facto de não serem vistos na ilha Terceira, mas tal não é verdade. Os eclipses de 16 de Fevereiro e 12 de Julho de 1832 eram visíveis dos Açores. O que não existiu em 1832, foram eclipses totais da Lua, todos os referidos anteriormente eram penumbrais.
Para uma melhor compreensão do que aqui se refere, passa-se de imediato à descrição dos vários tipos de eclipses observados em 1832 e neste Ano Internacional da Astronomia de 2009.
Ocorre um eclipse solar quando a Lua se entrepõe entre o Sol e a Terra ocultando completamente a luz que atinge a superfície terrestre. Tal ocorre apenas numa faixa estreita do globo. Por ser raro, esse é um dos fenómenos celestes que mais tem contribuído para o conhecimento humano na área da astronomia.
Neste ano de 2009, Ano Internacional da Astronomia, ocorrerá um eclipse solar total a 29 de Julho de 2009, mas não será visível nos Açores. Começará a ser visível na Índia, atravessa o Nepal, Bangladesh, Butão, Myanmar e China. Após deixar de ser visível na Ásia passa a ser visível nas ilhas japonesas Luchu, e atinge o seu máximo, no Oceano Pacífico. Aí, o eclipse do Sol será visto durante 6 minutos e 39 segundos.
Na figura seguinte apresenta-se uma imagem de um eclipse solar total, onde o disco da Lua tapa completamente o disco do Sol. Nessa imagem é possível observarem-se a ejecções enormes de plasma solar.

Na imagem seguinte, apresenta-se, numa faixa azul com círculos no seu interior, os locais do globo onde será possível observar o eclipse do Sol que ocorrerá a 29 de Julho deste ano de 2009.



No que se refere aos eclipses lunares, a sua classificação está dependente da parte da Lua que é obscurecida pela sombra da Terra, e da parte da sombra da Terra que a obscurece.
A projecção da sombra da Terra possui duas partes distintas: a umbra e a penumbra. A umbra é a região onde não há iluminação directa do Sol, e a penumbra, é a região onde apenas parte da iluminação é bloqueada (ver imagem seguinte).

De acordo com a Folhinha da Terceira, em 1832, não ocorreu nenhum eclipse da Lua, todavia, não se refere se serão eclipses totais ou eclipses penumbrais. Não tem muito sentido “astronómico” que se refiram nessa publicação eclipses parciais do Sol, e para a Lua, apenas se considerem de interesse os eclipses totais. Talvez tal opção se relacione com o facto dos eclipses penumbrais ocorrerem quando a Lua entra na região da penumbra, o que na prática resulta numa variação ténue do seu brilho que dificilmente é notada a olho nu. No entanto se a Lua entra inteiramente na região de penumbra ocorre o raro eclipse penumbral total que pode gerar um gradiente de luminosidade visível, estando a Lua mais escura na região que se aproxima mais da umbra. Esse fenómeno não ocorreu em 1832.
Quando a Lua entra na região da umbra podem ocorrer os eclipses lunares parciais e totais. O eclipse parcial ocorre quando apenas parte da Lua é obscurecida pela sombra da Terra e o total quando toda a face visível da Lua é obscurecida pela umbra. Este obscurecimento total pode durar até 107 minutos e é mais longo quando a Lua está próxima de seu apogeu, ou seja, quando sua distância à Terra é a maior possível.
Um último tipo de eclipse lunar raro denominado eclipse horizontal ocorre quando o Sol e a Lua, em eclipse, estão visíveis ao mesmo tempo. Este tipo de eclipse só ocorre a Lua está perto do poente ou antes do nascente.
Nos eclipses penumbrais da Lua de 1832, visíveis nos Açores, cerca de 51% do disco lunar entrou na penumbra da Terra e dessa percentagem, 48% entrou na umbra, a 16 de Fevereiro. No eclipse de 12 de Julho de 1832, 49% do disco lunar entrou na penumbra, e 58% dessa percentagem do disco, entrou na umbra.
Neste ano de 2009, também ocorrerão 4 eclipses da Lua, três penumbrais e um parcial, sendo vistos dos Açores apenas dois: eclipse penumbral (6 de Agosto de 2009) e o eclipse parcial da Lua (31 de Dezembro de 2009). No esquema seguinte apresenta-se o trajecto que foi efectuado pela Lua durante o eclipse de 9 de Fevereiro de 2009.



De seguida apresentam-se os locais do globo onde os eclipses lunares de 2009 foram ou serão visíveis.

Eclipse Penumbral da Lua de 9 de Fevereiro de 2009

Eclipse Penumbral da Lua a 7 de Julho de 2009



Eclipse Penumbral da Lua a 6 de Agosto de 2009

Eclipse Parcial da Lua a 31 de Dezembro de 2009


O trânsito de planetas interiores através do disco solar são fenómenos astronómicos raros, podendo ser considerados casos particulares de eclipses. É possível observar o trânsito de Mercúrio como o trânsito de Vénus, planetas interiores. Na imagem seguinte ilustra-se o trânsito de mercúrio em 1973.

Ocorrem, em média, treze trânsitos de Mercúrio por século. Apesar desse fenómeno ter ocorrido milhares de vezes durante a história da humanidade, tal fenómeno foi registado pela primeira vez em 1631 pelo astrónomo francês Gassendi. Anos mais tarde, 1639, os astrónomos ingleses Jerimiah Horrocks e William Crabtree registaram pela primeira vez o trânsito de Vénus.
Os trânsitos de Mercúrio ocorrem sempre nas primeiras semanas de Maio ou nas primeiras semanas de Novembro. A informação contida na Folhinha da Terceira, referente ao trânsito de Mercúrio está correcta, no que se refere à data, mas não está correcta quanto à hora de ocorrência desse evento. O trânsito de Mercúrio de 1832 iniciou-se 7 horas e 4 minutos do dia 5 de Maio e terminou 13 horas e 47 minutos do mesmo dia, contrariamente à 9 horas e 15 minutos e 14 horas e 7 minutos propostos na Folhinha da Terceira para o início e fim desse fenómeno.
A seguir apresentam-se todos os trânsitos de Mercúrio observados desde 1832, data da publicação da “Folhinha da Terceira” do Museu de Angra do Heroísmo até à actualidade e apresentam-se as três próximas ocorrência a partir da actual data de modo a contabilizar dois séculos exactos de observações.
1832 – 5 de Maio, 1835 – 7 de Maio, 1845 – 8 de Maio, 1848 – 9 de Novembro, 1861 – 12 de Novembro, 1868- 5 de Novembro, 1878 – 6 de Maio, 1891 – 10 de Maio, 1894 – 10 de Novembro, 1907 -14 de Novembro, 1914 – 7 de Novembro, 1924 -8 de Maio, 1927 – 10 de Novembro,1937 – 11 de Maio,1940 – 11 de Novembro,1953 – 14 de Novembro,1957 – 6 de Maio, 1960 7 de Novembro,1970 – 9 de Maio, 1973 – 10 de Novembro, 1986 – 13 de Novembro, 1993 – 6 de Novembro,1999 – 15 de Novembro, 2003 – 7 de Maio, 2006 – 8 de Novembro, 2016 – 9 de Maio, 2019 – 11 de Novembro e 2032 – 13 de Novembro.
Como é fácil perceber, a partir do número de trânsitos anteriormente referido, o trânsito de Mercúrio pode ser observado por cada um de nós poucas vezes na vida, o que torna esse fenómeno raro. Por outro lado, para que possa ser observado esse trânsito é necessário que ele ocorra durante o dia, à nossa localização. Os próximos três trânsitos de Mercúrio serão vistos nos Açores.