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2009-12-05

Ano Internacional da Astronomia - Dia 336 "Bússola Chinesa ou Luo Pan”

Félix Rodrigues

Luo significa a rede que tudo liga, e Pan, um utensílio ou prato. Assim sendo, Luo Pan é um instrumento que alegoricamente se refere à ligação entre o Céu e a Terra, que se crêem ligados pelas forças electromagnéticas presentes em toda a matéria. Luo Pan é uma bússola chinesa muito antiga, que se acreditava, e ainda se acredita, que é capaz de medir fluxos e posições energéticas dos astros que influenciam o planeta Terra. A Luo Pan representa, em ideogramas chineses, várias escolas da Cosmologia Chinesa.
As primeiras noções cosmológicas chinesas encontradas no Huainanzi e Zhoubi descrevem o movimento que o astro-rei faz no céu entre o nascer e o pôr-do-sol como sendo um quadrado. Consideravam o Céu como um Círculo (mundo natural - Divino) e a Terra, uma forma Quadrada (Conceito de Ordem). Essa conjunção de formas pode ser vista nos resquícios da cultura Hongshan (cerca de 3500 a.C.), no jogo ancestral denominado Liu Bo (uma das bases do Xadrez), no Templo do Céu em Pequim e está projectada na Luo Pan.
Tal ideia de mundo era muito próxima da do mito que apareceu no ocidente muito mais tarde, onde se dizia que a terra era considerada plana, coberta por uma cúpula de estrelas. Tal ideia está perfeitamente ilustrada na imagem que abaixo se apresenta. No entanto, o cientista Jorge Buescu, no seu livro “Da falsificação de euros aos pequenos mundos” afirma e tenta provar que tal mito não vigorou na Europa durante a Idade Média.
A bússola chinesa do Museu de Angra do Heroísmo é uma dessas bússolas, ainda não datada. Estudar os anéis dessa bússola chinesa é importante para se compreenderem os significados astronómicos, matemáticos e mitológicos do Universo Chinês e também para um melhorar o entendimento da evolução da construção do conhecimento humano.
Há milhares de anos que os chineses tentam compreender e interpretar fenómenos astronómicos e cosmológicos como o Sol, a Lua, as estrelas, a Terra e o homem. Dessas tentativas de interpretação do cosmos, que datam de pelo menos 7000 anos atrás, surgiram tradições como a de Ming Shu (comummente conhecida como os mitos dos Animais Sagrados: Pássaro Vermelho, Dragão Verde, Tigre Branco e Tartaruga Negra) a partir das quais foi possível estabelecer as bases para a identificação dos quatro pontos cardiais, pelos quais nos orientamos hoje em dia, e das quatro diagonais, que posteriormente se relacionaram com os 8 trigramas do I Ching (Livro das Mutações / Yi Jing), de extrema importância na cosmologia chinesa, como adiante se verá. O I Ching inspira muitas técnicas orientais, sendo Confúcio (nascido em Kung-Fu-Tzu no ano 551 a.C) um dos seus autores. Confúcio é considerado o mais eminente e consagrado de todos os mestres e sábios chineses, cujas obras influenciaram, e influenciam, a formação da cultura, da História e do pensamento chinês.
A Luo Pan é simultaneamente um instrumento de astrologia chinesa, mas também um modelo arcaico do cosmos. Aqui centrar-nos-emos apenas nos aspectos cosmológicos já que as crenças e propriedades desse instrumento não estão cientificamente comprovadas, no entanto, é de todo impossível omiti-las.
A Luo Pan, além de uma simples bússola, é na verdade, uma complexa tabela com forma circular. Na figura seguinte apresenta-se uma imagem desse instrumento. A Luo Pan do Museu de Angra do Heroísmo, pertence à tradição da cidade de San Yuan.
Desde muito cedo que os chineses foram capazes de encontrar os pontos cardiais, através da observação do movimento aparente do Sol durante o dia, e da Lua e das Estrelas, durante a noite (principalmente o da direcção da Estrela Polar no momento da sua passagem meridional).
Embora a agulha magnética seja conhecida na China há mais de 3000 anos, foi entre 475 a.C. e 221 a.C. que um tipo de Luo Pan, para cunho divinatório, chamada “Si Nan” foi inventada.
Esse aparelho tinha duas componentes básicas: uma colher magnetizada que apontava para a Ursa Maior e a Estrela Polar, e um prato quadrado com inscrições na base. De facto, as agulhas magnetizadas apontam para o pólo Norte geográfico, sob o qual se localiza a Estrela Polar. Esse facto levou a que pudesse ser utilizada na navegação marítima moderna a partir do conhecimento da declinação magnética dessa agulha com a longitude.
Durante a Dinastia chinesa Han (206 a.C.-220 d.C), a “Si Nan” foi aperfeiçoada e passou a denominar-se “Shi Pan”, esta última considerada como a bússola mais antiga em funcionamento no mundo.
Durante a Dinastia Song (960-1279), de acordo com o livro “Ming Xi Bi Tan“ (Registo das Conversas de Ming Xi, que foi intitulado “A Primavera Sonhada”), escrito pelo cientista chinês Shen Kuo, existiam quatro tipos de Agulhas Magnéticas: a da Unha, a Molhada, a Seca e a Pendurada. Hoje em dia, tal classificação não faz qualquer sentido físico.
No final da Dinastia Song (a partir de 1127), com desenvolvimento da navegação marítima e com o aumento da precisão das agulhas magnéticas, apareceu bússola San-He. Foi apenas na Dinastia Ming e Qing (1368-1911) que os anéis da Luo Pan se tornaram detalhados e muito mais complexos.
Para uma melhor compreensão da visão do mundo incluída na Luo Pan, apresenta-se em esquema o que está representado em cada um dos seus círculos. Tal como referido anteriormente, a sua forma circular representa o céu, que por vezes se apoiava num prato quadrado que representava a terra que se acreditava ser plana.
O arranjo do céu primordial é um conceito filosófico chinês que representa oito possíveis mutações do céu, mutações essas, semelhantes às que ocorrem na natureza com as estações do ano (refira-se que os chineses possuem 24 estações e que 3x8 =24). Cada uma dessas mutações tem três níveis distintos (trigramas) que a seguir se ilustram.
Esquema das oito mutações do céu primordial na cosmologia chinesa.
Cada mutação era considerada uma combinação de vários elementos, numa lógica semelhante à dos quatro elementos da visão física aristotélica, onde tudo se resumia à interacção entre o fogo, a água, o ar e a terra.
Trigramas chineses

Já no Livro do Génesis, adoptado pelo cristianismo europeu, o mundo primordial era função dos quatro elementos, Terra, Água, Ar e Fogo. “As águas estavam contidas nos céus e não na terra”, facto que levou o químico Helmont (1589-1644) a identificar os céus com o próprio Ar, e a Àgua e o Ar como dois elementos primogénitos que estavam na origem da constituição de todos os corpos. Há algum paralelismo entre os quatro elementos da teoria aristotélica e os oito trigramas chineses.
Na cosmologia chinesa existiam dois céus: o primordial e o posterior, em que o posterior correspondia a uma rotação do primordial, ou seja, a uma transformação do céu anterior.
Os símbolos utilizados na Luo Pan, estão relacionados com esses arranjos dos céus, bem como com as influências que eles teriam no ser humano.
Na figura seguinte apresentam-se os significados dos símbolos anteriormente referidos e utilizados na Luo Pan, de modo a facilitar a sua leitura ou interpretação, onde o planeta Terra ocupa o centro.
É perceptível que cada elemento primordial seja dado pela orientação da agulha magnética na Luo Pan.
O Rei Wen, da Dinastia chinesa Zhou, escreveu que:
"No início havia o Céu e a Terra. Céu e a Terra uniram-se e deram origem a tudo que existe no mundo”. Tal pensamento traduz claramente a cosmologia que aqui se refere e parece ser evidente a semelhança com o que consta no livro do Génesis e com a posição do químico Helmont. Também é fácil perceber que o trigrama Qian, que representa o Céu, e o trigrama Kun, que representa a Terra, tem que estar em posições opostas (Norte e Sul). Os seis trigramas restantes têm conotações com os filhos e as filhas (filhos da Terra e do Céu).
As 24 montanhas referidas no Luo Pan resultam de oito mutações associadas a três trigramas. Mais uma vez se verifica que esse número vinte e quatro, coincide com o número de estações do ano chinesas, num harmonia que se pretende entre o Céu, a Terra, o Ambiente, a Natureza e os seus filhos e filhas.
O anel de ameaça e perseguição presente na Luo Pan tem uma lógica astrológica, onde se crê que os céus podem ditar a má sorte e a perseguição dos homens. Essa má sorte poderia ser evitada se o indivíduo em questão seguisse o curso natural da energia ambiental envolvente, medida pela agulha magnética, que indicaria a direcção correcta, do mesmo modo que a água flúi ao longo de uma montanha “conhecendo” perfeitamente o rumo que toma. Assim o ser humano deveria seguir a direcção que naturalmente lhe é indicada pela natureza. Essa lógica está patente nos círculos cinco, seis e sete da Luo Pan.
De acordo com uma lenda chinesa, as carpas do Dragão Dourado nasceram com um único desígnio na vida: atravessar as portas do céu para se transformarem em dragões. Era devido a esse destino que as carpas eram capazes de subir as correntes dos rios para chegar ao paraíso. Essas capacidades das carpas foram transferidas simbolicamente para o ser humano que para atingir a perfeição ou a excelência teria que passar as oito portas do dragão. É sobre as direcções que o ser humano deve seguir, com vista a atingir a perfeição que o oitavo círculo da Luo Pan se debruça.
O nono círculo da Luo Pan, refere-se aos signos chineses que se apresentam na imagem seguinte.
São doze os animais do horóscopo chinês, cada um deles com uma personalidade diferente, que se acredita que a reflectem sobre os seus nativos. O calendário chinês é um calendário lunar, por isso cada ano novo começa numa lua nova, que ocorre entre 21 de Janeiro e 20 de Fevereiro sendo os seus signos associados às transições da Lua e não à transição do Sol.
Como é fácil perceber, também os signos chineses tem uma orientação relativamente à Terra e são facilmente combinados com os oito trigramas. A Luo Pan, numa lógica matemática básica, combina todas essas visões. O facto de se poder combinar todas as crenças, todas as observações astronómicas e muitas das lendas com os elementos primordiais (trigramas), torna difícil de explicar, aos indivíduos cientificamente pouco formados, porque razão esse modelo de universo não funciona.
De acordo com outra lenda chinesa, consta que o Imperador de Jade, embora fosse o grande senhor dos Céus, desconhecia a vida na Terra. Esta ignorância levou-o a pedir ao seu Conselheiro-Mor que lhe trouxesse os doze animais mais interessantes que viviam na Terra, para que os pudesse avaliar. O seu súbdito assim fez e os animais que escolheu estavam diante o Imperador às 6 horas da manhã do dia seguinte.
Embora os doze animais sejam o aspecto mais conhecido da Astrologia chinesa, estes constituem apenas uma parte do sistema chinês de contagem dos anos. Na China, o tempo é medido em ciclos de 60 anos. Tanto a contagem de tempo chinesa como a lógica de organização da Luo Pan, tem por detrás uma base que não é a decimal, mas praticamente sexagesimal.
O décimo círculo da Luo Pan, está mais uma vez relacionado com lendas chinesas, desta vez com o quadrado mágico de Luo Shu.
Há cerca de 4000 anos atrás, apareceu a boiar nas águas do rio Lo, diz a lenda chinesa, a carapaça de uma tartaruga negra gigante (um dos animais sagrados da mitologia chinesa), onde estavam inscritas umas marcas estranhas (ver figura seguinte).
As marcas encontradas na carapaça, se colocadas num quadrado, onde nenhum dos números se repetia, somavam sempre 15, fosse qual fosse a direcção seguida para efectuar essa operação. Tratava-se, de acordo com os antigos chineses, de um quadrado mágico, onde a posição do 5 (a Terra) tem um papel fundamental na obtenção do mesmo resultado para a soma de três números, em qualquer direcção (que poderia ser obtida por uma bússola) e sem repetir nenhum deles.
O número 15 é o número de dias de cada um dos 24 ciclos ou estações chinesas. A disposição dos números do quadrado de Luo Shu, numa lógica de “mutações”, permite associar-lhe oito trigramas e simultaneamente, oito direcções que poderiam ser pesquisadas, mais uma vez, com uma agulha magnética.
Ainda numa lógica matemática, os oito trigramas, Terra, Água, Lago, Fogo, etc, poderiam combinar-se entre si e originar hexagramas. Sendo oito os trigramas e podendo cada um combinar-se consigo próprio, como por exemplo Terra com Terra, obtêm-se sessenta e quatro hexagramas (8x8). As posições dos hexagramas no Céu, os seus nomes, a sua influência nos céus, na vida das pessoas e na ordem do universo, fazem parte dos círculos 11, 12, 13, 14 e 15 da Luo Pan.
Cada hexagrama, na organização do universo chinês arcaico, tem um nome e também se acredita que tem uma influência no ser humano. De seguida apresentam-se os nomes dos hexagramas presentes no Luo Pan.
1.qián, o Criativo; 2.kūn, o Receptivo; 3.zhūn, a Dificuldade Inicial; 4.mēng, a Insensatez Juvenil; 5.xû, a Espera; 6.sòng, o Conflito; 7.shī, o Exército; 8.bì, a Solidariedade (A União); 9.xiǎo chù, o Poder de Domar do Pequeno; 10.lǚ, a Trilha (A Conduta); 11.tài, a Paz; 12.pǐ, a Estagnação; 13.tóng rén, a Comunidade dos Homens; 14.dà yǒu, Grandes Posses; 15.qiān, a Humildade (Modéstia); 16.yù, o Entusiasmo; 17.suí, o Seguir; 18.gǔ, o Trabalho sobre o que foi Corrompido; 19.lín, a Aproximação; 20.guān, a Contemplação; 21.shì kè, o Morder; 22.bì, a Graciosidade (Beleza); 23.bō, a Desintegração; 24.fù, o Retorno (O Ponto de Mutação); 25.wú wàng, a Inocência; 26.dà chù, o Poder de Domar do Grande, 27.yí, o Prover Alimento; 28. dàguò, a Preponderância do Grande; 29.kǎn, o Abismal (A Água; O Insondável); 30.lí, a Adesão (O Fogo); 31.xián, a Influência (O Cortejar); 32.héng, a Duração; 33.dùn, a Retirada; 34.dà zhuàng, o Poder do Grande; 35.jìn, o Progresso; 36.míng yí, o Obscurecimento da Luz; 37.jiā rén, a Família; 38.kuí, a Oposição; 39.jiǎn, o Obstáculo (A Obstrução); 40.jiě, a Liberação; 41.sǔn, a Redução; 42.yì, o Aumento; 43.guài, a Determinação; 44.gòu, Ir ao Encontro; 45.cuì, a Reunião; 46.shēng, a Ascensão; 47.kùn, a Opressão (A Exaustão); 48.jǐng, o Poço; 49.gé, a Revolução; 50.dǐng, o Caldeirão; 51.zhèn, o Incitar (A Comoção; O Trovão); 52.gèn, a Quietude (A Montanha); 53.jiàn, o Desenvolvimento (O Progresso Gradual); 54.guī mèi, a Jovem que se Casa; 55.fēng, a Abundância (A Plenitude); 56.lǚ, o Viajante; 57. xùn, a Suavidade (O Vento); 58.duì, a Alegria (O Lago); 59.huàn, a Dispersão (A Dissolução); 60. jié, a Limitação; 61.zhōng fú, a Verdade Interior; 62.xiǎo guò, a Preponderância do Pequeno; 63.jì jì, Após a Conclusão e 64.wèi jì, Antes da Conclusão.
A combinação dos atributos anteriores permitia produzir uma influência única ou um diagnóstico singular para cada indivíduo, já que a combinação de todos esses itens produz um número enorme de possibilidades de visões ou influências astrais. Ora, cada hexagrama tem seis linhas, o que quer dizer que é possível obter 6x64=384 linhas distintas no conjunto de todos os hexagramas. Essas linhas são referidas no décimo nono círculo da Luo Pan.
A lógica matemática da construção de hexagramas a partir de trigramas e do número de linhas dos hexagramas é muito próxima da organização do tempo e contagem do tempo chinês.
Na China, o tempo é dividido em nove idades, cada uma com vinte anos. Cada grupo de 3x20 anos corresponde a um período. Um ciclo temporal completo são 180 anos. Assim, cada ciclo tem três períodos. Crê-se que o número três pode ser representado por um trigrama, 60 por 6x10 ou seja dez hexagramas. Assim, a ligação entre o hexagrama e o calendário chinês parece coerente uma vez que aí existem vinte e quatro estações (3x8) que é igual ao produto do número de linhas de um trigrama pelo número de trigramas. Essa lógica está patente nos círculos 15 e 21 da Luo Pan.
Não é de estranhar a crença na coerência desses números que compõe o universo chinês arcaico. Já na Grécia Antiga, principalmente com a escola pitagórica, iniciou-se um processo de sacralização da música enquanto referência fundamental para o conhecimento do universo. A “harmonia das esferas”, era uma teoria que atribuía aos planetas movimentos regidos por leis análogas às da consonância musical. Essa teoria veio a ter uma imensa projecção na ciência ocidental. Defendia-se essa teoria com o seguinte argumento: “As cordas soam por si mesmas. Não há nada de miraculoso nisso, uma vez que as Cinco Notas estão relacionadas entre si de acordo com os Números pelos quais o mundo está construído.”.
A organização da Luo Pan, parece beber de um princípio semelhante à teoria da “harmonia das esferas” e por consequência à “teoria das cordas”. Essa crença de harmonia fortalece-se com o facto das 24 estações chinesas poderem resultar do produto 3X8 (três linhas do trigrama vezes oito elementos).
As estações chinesas são: 1- Início da Primavera, 2- Menor frio, 3-Maior frio, 4-Água da chuva, 5- Despertar dos insectos, 6-Limite do Calor, 7- Equinócio de Inverno, 8-Clara e brilhante, 9-Grão Chuva, 10-Início de Verão, 11-Grão integral, 12-Grão de Orelha, 13-Solstício de Verão, 14-Menor calor, 15-Maior calor, 16-Início do Outono, 17-Mínimo branco, 18- Equinócio do Outono, 19-Orvalho frio, 20-Descida do gelo, 21-Início de Inverno, 22- Mínimo de Neve, 23- Máximo de Neve, e 24 -Solstício de Inverno. A conjugação das orientações da agulha com as estações do ano chinesas aparece no círculo vigésimo primeiro da Luo Pan.
O vigésimo segundo círculo da Luo Pan, denominado de Qi Men Du Jia, prende-se mais uma vez com aspectos exclusivamente astrológicos e está ligado a um antigo oráculo chinês.
Foi durante a Dinastia Shang (entre 1520 e 1030 a.C.), que os astrónomos chineses dividiram os céus em 28 mansões lunares, cada uma correspondente a uma secção do equador onde a Lua se situaria em épocas de especial interesse. Na Luo Pan, essa lógica de divisão dos céus está patente nos círculos 23 e 25. O círculo 24, traduz mais uma vez a crença de que a posição da Lua tem influência na vida humana.
No último círculo da Luo Pan, têm-se a divisão do céu em 360º. A numeração chinesa é um dos sistemas de numeração mais antigos e complexos da história. A matemática chinesa não surgiu sozinha, há estudos que comprovam que ela existia desde a Dinastia Han, da mesma época do Império Romano e nas transacções comerciais com outras regiões da Ásia. Assim pode afirmar-se que a ciência chinesa sofreu influência dos árabes e dos indianos e também influenciou outras regiões.
O facto da Luo Pan ter uma divisão sexagesimal dos céus pode dever-se a influências Sumérias. O sistema sexagesimal é um sistema de numeração de base 60, criado pela antiga civilização Suméria. Uma possível razão para o aparecimento deste sistema de numeração poderá residir no elevado número de divisores de 60 (1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20, 30 e 60). Outra hipótese poderá vir da união de um sistema de contagem de base 5, que se baseava em contar com os dedos da mão, e o sistema de contagem de base 12, que usava o método das três falanges. O sistema consistia em contar as falanges dos dedos da mão direita, utilizando o polegar, totalizando doze falanges (três falanges em quatro dedos), com os cinco dedos da mão esquerda, contam-se as dúzias, totalizando cinco dúzias ou seja 60.
A Luo Pan é, em termos de funcionamento astrológico, muito complexa, porque também é complexa a estrutura do cosmos que aí se representa. Trata-se de uma visão arcaica similar a outras visões europeias arcaicas do universo. Apesar da complexidade, a maioria dos argumentos não tem qualquer fundamento científico na actualidade.