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2009-04-09

A pulga de Napoleão

Vê que o valor das coisas não está nelas,
Mas no conhecimento que delas reténs:
Os olhos azuis dos céus,
Fitam os olhos castanhos da terra,
Achando-os mais belos do que os seus,
Na ausência de reflexos.

Vê que a pulga que picou Napoleão,
Tem mais valor,
Do que a que picou o João do Pé de Feijão.
Uma é fábula,
A outra, contradição,
Pois a pulga que picou o imperador francês,
Não o fez para ser descortês,
Nem tão pouco porque crês
Que se trata da mais inteligente das pulgas.
Só o é, na tua imaginação.
Ora cá está a confirmação
De que o real pode ser fabulação.

Aquilo que não vês, ou nunca verás,
Não sentes, não perceberás,
Se não souberes por onde andou,
Que fenómeno o criou
Ou como se transformou.
Com isso fabularás,
Criando uma teoria,
Sobre o incontornável valor das coisas,
Que saindo do mundo real,
Passou para o imaginário, virtual.
Félix Rodrigues


Angra do Heroísmo, 3 de Abril de 2009.

Elfolândia
O escritor, poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo e filósofo inglês, Gilbert Keith Chesterton, tinha como argumentos, contra os seus adversários, a “ética da Elfolândia”, ética essa que diz estar presente nos contos de fadas, como fundadores da nossa moral. Os pilares dos nossos princípios éticos são os passados de pai para filho. Como a autor diz - a tradição é a democracia dos mortos, dos nossos antepassados, que com a sua experiência se fazem presentes a partir da tradição. É essa tradição e conceitos que são passados de geração em geração com nos contos de fadas. Dá como exemplos, a exaltação aos humildes na história da Cinderela. A lição de que ninguém pode ser amável sem ser amado antes, que é o cerne de A Bela e o Monstro. O uso dos contos de fada, serve para mostrar o quanto perdemos das belezas e simples factos da vida, que Chesterton afirma poderem fazer frente à ambição de omnisciência dos cientificistas e materialistas do início do século XX. O mensagem de Chesterton contra os adeptos desse progressismo científico é clara: os cientistas devem cuidar apenas dos assuntos científicos, e não abordar tudo pela óptica de sua ciência para julgar questões que estão fora de seu alcance, como a moral ou a teologia. Esse recado é dirigido às filosofias de H. G. Wells, Bertrand Russel e Bernard Shaw, que Chesterton tentando demonstrar o quão preocupante é uma sociedade baseada na ética ateísta e materialista. Hoje podemos perceber que esses pensadores que Chesterton combateu foram o fermento dos princípios éticos de Peter Singer e do “novo ateísmo” de Richard Dawkins e Sam Harris.
Ao contrário do pessimismo e fatalismo de alguns filósofos, Chesterton defendia o sentimento de alegria e reconforto perante o Universo. Num exercício de apelo à imaginação, pede para que cada um dos seus leitores deixe de lado a visão materialista do Universo, um lugar imenso e frio, e comece a olhá-lo como um lugar aconchegante, incitando-nos a ter amor pelas coisas que ele contêm. Chesterton defende que quando nos rejubilamos pela existência do Universo, temos um bom motivo para amá-lo, mas a tristeza que podemos sentir ao contemplá-lo é um motivo muito maior para também o amar. Afirma ainda esse filósofo, assim como as maiores demonstrações de patriotismo se dão em situações críticas em que a pátria nos desaponta profundamente, fazendo com que lhe mostremos o nosso amor agindo para produzir mudanças, devemos agir do mesmo modo perante o Universo. Chesterton ainda vai mais longe ao afirmar que o homem mais apto a destruir o lugar que ama é aquele que o ama por algum motivo.

20 Comments:

At 12:45, Blogger Berro d'Água said...

Para começar:

"Os olhos azuis dos céus,
Fitam os olhos castanhos da terra,
Achando-os mais belos do que os seus"...

Simplesmente lindo!!!

Tu és pura e docemente poético e tens um olhar profundo capaz de desnudar sutilezas. Tenho orgulho de ti querido amigo do coração!!!

Beijos para teu final de semana e para os teus queridos, também!!!

Da Cris

 
At 13:14, Blogger susana said...

:) muito bonito. Fábulas existem muitas porque se formos humildes perceberemos que pouco conhecemos. Os teus textos têm um encadeamento inteligente e simples de se entender. A tua poesia é diferente. Gosto dela.
Quanto ao electrico eu ando nele sozinha, sem crianças. Elas ficam no sitio onde trabalho e eu venho para casa dormir:)
beijinhos
su

 
At 15:31, Blogger Su said...

Só o é, na tua imaginação.
Ora cá está a confirmação
De que o real pode ser fabulação.


ora nem mais.................

jocas maradas de palavras

 
At 17:41, Blogger Carlos Faria said...

Gostei do texto referente a chesterton, concordo com muito do que ele disse, talvez nem tudo e se o conhecesse com mais profundidade mais divergências surgiriam. Não sei se Sam Harris é mesmo um ateísta, ele próprio duvida mesmo quando escreve "o fim da fé", talvez não tenha é uma fé cheia de mitos e nem saiba bem no que acredita.

 
At 17:44, Blogger Alexandra said...

Adorei este post!!

E estou de acordo com esta frase: (...)"Chesterton ainda vai mais longe ao afirmar que o homem mais apto a destruir o lugar que ama é aquele que o ama por algum motivo."

Na maioria das vezes, a emoção impele à acção.

Bom resto de Domingo.

 
At 14:58, Anonymous Anónimo said...

Olá.


Quanto á tradição ser a democracia dos mortos, eu diria mais ainda, é a ditadura dos mortos e dos mortos-vivos.Dos que se acomodam porque têm vantagem nisso.

Para além do bem e do mal, um mosquito é simplesmente o que é, um mosquito. O que não o impede de ser o animal que mais mata em todo o mundo...

Quanto á ética acho que é uma questão de bom senso e de estrutura ou espinha dorsal necessária.

Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti, é simples e fácil em estarmos de acordo...

Até as árvores têm "espinha dorsal"...só as amibas, animais unicelulares etc não têm espinha dorsal. No nosso sistema solar há um sol em torno do qual os planetas giram, etc.
Ou seja, a vida manifestada e complexa deve ter sempre um eixo.
Mas a meu ver, deve ser estruturante mas flexivel, como a nossa coluna. Que o digam os contorcionistas...

Um abraço

 
At 12:52, Blogger TF said...

Félix
Uma Feliz Páscoa também para ti e para os teus.
Beijinho.
Teresa

 
At 15:57, Blogger Isabel José António said...

Querido Amigo Félix,

Parabéns por tão importante post, pois ele aborda questões como a REALIDADE (e o que é REAL?) e a relatividade das coisas.

A Realidade das coisas é saber o que elas são. Como funcionam. E TUDO, mas absolutamente TUDO, é constituído pelas partículas sub-atómicas que, quando vamos vê-las nem sequer aparecem. Isto é que é A REALIDADE de TUDO.

A partir daqui todas as outras coisas são relativas e conjunturais (sendo elas, animais, minerais ou vegetais).

Logo, nós que somos constituídos por milhões de partículas, embora essa constituição, seja perfeitamente organizada, somos relativos naquilo que muda, nas células que vão morrendo e sendo substituídas por outras. Aquilo que é PERMANENTE em nós, é a organização energética das partículas que formam a CONSCIÊNCIA, quer em nós, quer a sua ligação ao campo da CONSCIÊNCIA UNIVERSAL.

Mas que grande post que fizeste, querido amigo. Belíssimo.

Um grande abraço e uma Páscoa vivida com saúde e boa disposição.

José António

 
At 16:40, Anonymous Anónimo said...

Fantástico. Gostei mesmo.

 
At 18:18, Blogger Maria Azenha said...

venho agradecer a sua visita ao "o pó da escrita" e agradecer os parabéns.

maria azenha

 
At 21:12, Blogger Felisberto Matos said...

caro félix:
Enviei-lhe hoje pelo correio,morada por si indicada,duas pedras:uma parida outra ,parideira.segundo informação dos correios,deve chegar aí dia 13 ou 14 do corrente mês.
um abraço

 
At 17:18, Blogger escarlate.due said...

"Vê que o valor das coisas não está nelas,
Mas no conhecimento que delas reténs"
gosto dessa teoria

"o homem mais apto a destruir o lugar que ama é aquele que o ama por algum motivo"
já esta... dá que pensar...


e gostei! como habitualmente!
beijo

 
At 18:49, Anonymous Anónimo said...

Gosto dos olhos azuis do céu.
Joe

 
At 20:16, Anonymous Anónimo said...

Olá,

Vim desejar-lhe boa Pàscoa e deixar um abraço que o anime.
Já o tinha feito lá na Cidade, mas vou estar ausente uns dias e assim sei que recebe o abraço e uns beijinhos,

 
At 21:17, Blogger Nilson Barcelli said...

Gostei do poema e da ilustração fotográfica. E também do texto acerca da "ética da Elfolândia" de Gilbert K. Chesterton.
Mais um excelente post, como sempre...
Boa Páscoa, abraço.

 
At 23:05, Blogger Fá menor said...

Poesia lindíssima!
Gostei igualmente do texto e das ilustrações!

Obrigada pela sua visita.

Votos de uma Boa Páscoa!

Fa

 
At 23:43, Blogger Unknown said...

Tenho uma lembrança para ti no meu blog.
Bjokitas

 
At 11:23, Anonymous Azoriana said...

Ainda não li o artigo todo mas sei de antemão que é sempre bom pois tudo o que escreve é sempre bom.

Venho para o convidar para a minha festa no blog, uma vez que estamos nesta onda quase como uma família.

Desejo uma Feliz Páscoa para o amigo e toda a sua família.

Abraços

 
At 11:34, Blogger O Profeta said...

Fabuloso post meu caro amigo...


Boa Páscoa


Um abraço

 
At 16:02, Blogger oceanus said...

...
gostei muito!
simples e profundo
uma fábula do Universo!

Páscoa Feliz

abraços

 

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