Haja Saúde.

Rodeei-me de gentes, assumi costumes, olhava o mundo e discutia a vida.
“Haja saúde” era o nosso cumprimento, certos que nos ampararíamos aquando da prevalência ou incidência da doença.
O tempo foi passando e fui-me sentindo como que colocado no centro de uma cidade com desenvolvimento radial: na primeira circular - os amigos próximos, na segunda circular - os amigos de ocasião, na terceira circular - os conhecidos de vista e numa outra qualquer circular, os desconhecidos.

“Haja saúde”, dizia eu aos primeiros, nunca me atrevendo a saudar do mesmo modo os desconhecidos, como se não fosse possível haver cooperação e entreajuda entre quem nunca se conheceu.
“Haja saúde” deixou de ser uma aspiração, passou a ser uma saudação e terminou em hipocrisia.

Porque saudaria com um “Haja Saúde” o desconhecido que vive no local onde abandono os meus resíduos? Porque me saudaria com um “Haja saúde” o empresário da quinta ou sexta circular, que me envenena o ar que respiro? Assim, “Haja saúde” passou a ser uma vã aspiração.
Não vi a dinâmica da colectividade, não assumi que crescimento pode significar o mesmo que despersonalização ou desumanização.
Não cresci tanto como a cidade, não conheci o suficiente na universidade da vida para continuar a cumprimentar toda a gente com um “Haja saúde” e passei a desejar “Bom dia”, assumindo que será bom se houver uma baixa probabilidade de ser pior, ou seja, de continuar igual ao que sempre foi, onde cada um continuará com as dores e os tormentos que sempre teve. “Haja saúde” perdeu-se, pois já não tem sentido nas gentes que me rodeiam, nos costumes que assumi, na forma como vejo o mundo ou na forma com discuto a vida.
Félix Rodrigues

Como gostarias de cumprimentar aqueles que se cruzam contigo?