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2006-10-14

Os amigos que perdi

Deambulava pelas ruas da cidade com uma barba comprida e suja que chegava a confundir-se com a vassoura do Município.
Estava velho, mais velho que o efeito do tempo que passara sobre ele.
Outrora, sentava-se nos degrais da escola cheio de certezas, dando a entender que nenhuma droga seria capaz de o derrubar.
Este foi o Francisco.
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Rondava as portas das discotecas escondendo-se na própria sombra ou nas sombras disformes da Lua. A estratégia de caça era semelhante à do Leopardo, mas já não tinha garras para segurar qualquer presa.
Ouvi-o tantas vezes gabar-se dos seus atributos físicos, e vi-o a assentar a sua vida, na beleza narcisista que possuía.
Já não encontra homens ou mulheres capazes de o sustentar.
Este foi o José.
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Ria-se para os cartazes da cidade, os pombos pousados nas estátuas e as pedras da calçada, ou talvez fossem essas coisas que se riam dele. O estômago teimava em entrar em sintonia com o Atomium Belga, e o hálito, em ser um anestésico de bloco operatório.
Divertia-nos com a sua visão do Mundo, e garantia-nos que ficava mais apurada, com dois ou três copos de chá de cevada fermentada.
Este foi o João.
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Sonhava ainda ser rico e bafejado pela sorte. Por isso, continuava a apostar na lotaria e nas slot machines. Se ganhasse, já poderia substituir o casaco e as calças puídas e descoloradas que quase se equilibravam por si próprias. A sua entrada nas casas de jogo estava proibida, em nome dos calotes que lá deixara.
Costumava apostar que a professora de geografia faltaria às aulas naquele dia. Quase sempre acertava. Fez das apostas o seu ganha-pão.
Este foi o António.
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Encontrei-o quando me levava o rádio velho do carro. Apesar de manco, ainda sabia saltar muros.
Achava que a vida era fácil e que todos lhe deviam qualquer coisa. Por ter que aturar a professora de matemática, compensava-se com a carteira dela, para ter que saber a constituição das células tinha que assimilar a sabedoria contida na esferográfica da professora de biologia, e para ter que ouvir a poesia de Camões, tinha de adquirir os walkman do professor de Português.
A polícia entendia que esses direitos estavam directamente associados ao dever de ver o Sol aos quadradinhos.
Este foi o Manuel.
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É tão simples perder um amigo! Por vezes, basta não concordar com ele.
Félix Rodrigues
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Qual a maior discordância que tem com os seus amigos?
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19 Comments:

At 14:14, Anonymous Anónimo said...

Penso (na minha infinita ingenuidade) que os verdadeiros amigos nunca se perdem.
Podem eles se perder de si mesmos, mas cabe-nos a nós acarinhá-los independentemente dos seus desvaneios.

Já deixei de poder contar com algumas pessoas, as quais considerava minhas amigas, cheguei depois à triste conclusão que a amizade era só da minha parte, pois um verdadeiro amigo compreende, perdoa, briga muito e depois abraça com ternura.
Há também aqueles que passam pela nossa vida e que vão desaparecendo aos poucos da vista e do coração. A esses chamo de conhecidos pois o termo "amigo" é muito mais complexo para se desvanecer no tempo.

O que mais me choca nos supostos amigos é a falta de sinceridade para me criticarem olhando nos meus olhos. As palmadinhas nas costas e os sorrisinhos seguidos de apunhaladas nas costas é o que desgosta mais.

 
At 15:19, Blogger melena said...

caro desambientado

com os amigos não tenho grandes discordâncias.

temos gostos diferentes, inerente ao facto de todos sermos diferentes.

a verdadeira amizade, a que perdura e perdoa momentos menos felizes (que todos temos) torna-se um farol neste mundo confuso

Um abraço

 
At 15:32, Blogger Isabel José António said...

Olá Amigo Félix!

As discordâncias com os amigos são todas e não são nenhumas. São todas porque todos diferentes e todos iguais.

Quando é para discordar de algo, é mesmo p+ara discordar. Se temos coisas em comum, melhor ainda, não se discorda tantas vezes.

A nível subtil todos estamos ligados uns aos outros e nem damos por isso.

As nossas personalidades têm a manias que são as donas dos próprios EUs. O que não é verdade.

Embora possamos discordar , tal discórdia é sempre possível de ter uma solução, nós e os que de nós discordam, fazemos todos parte da mesma realidade. Somos todos como que pernadas, ou ramos, da mesma árvore.

As minhas discordâncias maiores sempre tiveram a ver com a ÉTICA ou com a falta dela. Aí, é onde se revela, quem de facto é amigo. Embora pernadas da mesma árvore, seguimos direcções, naturalmente, diferentes.

Um abraço

José António

 
At 14:09, Blogger Vida said...

Muitas, não tenho de concordar em tudo com alguêm para ser seu amigo, um amigo é para nos compreender nas nossas diferenças, nos apoiar, nos abraçar e conversar sobre as discordâncias. Os meus melhores amigos estão longe e a distância nem o tempo não mata a amizade. Não vamos confundir amizade com conhecidos.
Os verdadeiros amigos não se perdem com facilidade, também não se ganham da mesma forma.

Beijos.

 
At 14:23, Blogger Leticia Gabian said...

Quando a verdade é dita em lugar do que realmente queremos escutar. Sim, porque o amigo pra valer te diz verdades. E às vezes a gente só quer escutar o que o nosso coração quer ouvir. A discordância não passa de uma discussão mais acalorada. Depois, tudo retoma sua forma.
Um beijo

 
At 18:27, Blogger Terceirense said...

Eu não posso nem devo escrever o que penso sobre discordâncias entre amigos... seria confuso explicar. Fico no pensamento :)
Talvez um dia em consiga expor a "tese".

 
At 21:05, Blogger Memória transparente said...

"Duro é abandonar o que houve de sentido e obedecer
Mas o mover das pálpebras foi o que herdámos dos pássaros
Diante dos olhos só se repete o passar"

Daniel Faria - in Poesia.

 
At 21:46, Blogger Lâmina d'Água & Silêncio said...

Qual a maior discordância que tem com os seus amigos?


Dos amigos, dos verdadeiros, desses não há discordâncias. Há alguns desacertos e sempre com possibilidades de ajustes.

Dos pseudos amigos, desses é justamente esse tênue espaço que há entre a verdade e a vontade; entre os sentimentos íntegros que regem os que se escolhem e se afinam, dos que simplesmente se dizem amigos, é que faz a grande diferença e fortalece as relações,tanto ou mais do que irmãos e isso independe de sexo, de cor, opção, nada. E para os amigos verdaedeiros, tudo. E por sabermos a diferença entre amigos e conhecidos, é que acabamos por reconhecer que amigos verdadeiros, são poucos. Amigos de verdade, ficam e mesmo quando não estão presentes... Ainda assim, é como se nunca tivessem estado distantes. Com amigos aprendi muitas coisas e algumas bem interessantes... Aprendi que aos amigos verdadeiros não se pede desculpas e sempre devemos aprender a estar atentos aos sinais de pedido por silêncio...

Gosto de ti meu AMIGO FÉLIX!!!
Gostei também e muito, de teu post!!!

Beijinhos,
Cris

 
At 09:44, Blogger Ana Isabel Godinho said...

Discordâncias com os amigos...por vezes surgem...mas com uma boa conversa tudo fica esclarecido.
Gostei muito deste post...levou-me a pensar nos amigos que perdi, lembrei-me deles e da forma estupida como todos partiram...acidentes rodoviários! Todos eles na faixa etária do 20 anos, tão novos e com um futuro todo pela frente.
Num espaço de dois anos perdi cinco amigos! Todos vitimas de acidentes na estrada!!!!! Quase nem dá para acreditar!!!

Ana Isabel

 
At 15:29, Blogger Aprendiz de Viajante said...

Não existe a grande discondância entre eu e os meus amigos, mas sim a grande concordância entre eles e eu, identificámo-nos... apesar das PEQUENAS discordâncias, respeitámo-nos...


São esses os meus VERDADEIROS amigos.

Aqueles que tiverem uma grande discordância de mim, não se poderão entender comigo, porque de certo terão uma personalidade muito diferente da minha, com princípios que não serão os meus.

 
At 21:10, Blogger Rute de Moura said...

Não tenho muitas discordâncias com os meus Amigos. Às vezes não concordamos com tudo o que o outro pensa, ou seja, temos opiniões diferentes que debatemos e respeitamos.

 
At 22:52, Blogger ॐ Hanah ॐ said...

Maravilhosa sua crônica....


Acho que pessoas passam por nossas vidas.
As que ficam são as que realmente nos respeitam e as que nós respeitamos....

Tudo é troca.... e amadurecimento...

té mais

 
At 19:38, Blogger M.A. said...

a sua morte!


bom fim de semana, amigo.

***maat7

 
At 16:12, Anonymous Anónimo said...

Francisco, Jose , João , Antonio e Manuel. São mostrados de maneira magnifica, por que existe a sensibilidade e capacidade descritiva de Félix Rodrigues.
Parabens e abraços.

 
At 01:56, Blogger Carla Augusto said...

Os verdadeiros amigos nunca se perdem, penso eu...
Gostei deste blog!

 
At 02:28, Blogger APC said...

Gostei do comentário da Lília:
"Penso que os amigos nunca se perdem. Podem eles perder-se a si mesmos, mas (...)"

Tenho a sorte de ter amigos a quem me confiaria inteira e de cuja bondade jamais duvido.
Sei que não é fácil, e embora tenha angariado alguns dos bons ao longo da vida, estes a que me refiro são de mui longa data.
Creio que concordamos em discordar, e isso é o principal. Permitirmo-nos isso é querer o outro pelo que ele é!
Depois, há as opiniões que se confrontam, ora mais serenas, ora mais inflamadas; mas há também a confiança, a protecção, o orgulho, os laços de afecto que nos não permitem desprender e ir embora sem o outro.

E tu?... :-)

Gostei muito teu post... Mas terás consciência que ele nos crava uma dúvida dolorosa no espírito, certo?... ;-)

 
At 19:29, Anonymous Anónimo said...

Há uns tempos acrescentados que não venho aqui...e quem perde, claro, sou eu.

Li algures q irás a S Maria. Tenho pena de lá não estar.

Beijinho

 
At 15:34, Blogger blogdojua said...

Caro Félix,
muito obgdo pela visita e pelas palavras. Será um prazer tem o BLOGO DO JUA, vitado Jornal de Açores e parabéns pelo seu belíssimo Blog.
Gd ab.,
Juarez

 
At 15:38, Anonymous Anónimo said...

Caro Félix,
muito obgdo pela visita e pelas palavras. Será um prazer ter o BLOGO DO JUA, citado Jornal de Açores e parabéns pelo seu belíssimo Blog.
Gd ab.,
Juarez

 

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