A cegonha e a sementinha

-Mamã. Gosto muito de ti.

Explica-me como nasci.

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-Chegaste numa cegonha.

O resto não conto,

Porque tenho vergonha.

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-E tu papá, o que fizeste para me ter?

À cegonha escreveste

Ou foste-me escolher?

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-Criei uma sementinha,

Coisa ridícula e pequeninina.

Tomei conta dela até desabruchar.

Reguei-a de amor até te encontrar,

E mais não conto porque estou a corar.

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-Como é que a cegonha me amamentou?

Não bebi leite como os outros meninos?

Não tive festinhas nem tão pouco carinhos?

Não usei fraldas como os pequeninos?

Não tive lábios que me dessem beijinhos?

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-A mãe pôs um ovo,

P'ra cegonha chocar,

Que o teu pai se fartou de beijar.

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-E eu fiz-te um ninho,

com muito carinho.

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-A minha mãe é uma cegonha,

E o meu pai uma sementinha.

Que vergonha! Que horror!

Pensava ter nascido de um acto de amor.

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Félix Rodrigues

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O que é que te envergonha na humanidade?

Nota- Este post é dedicado a todos os pais que gostam de ser cegonhas e sementinhas.