Micromundo
Se fosse de Cladonias cocciferas, provavelmente teriam sido colhidas no cimo da Montanha do Pico, no cimo da Serra de Santa Bárbara na Terceira ou no cimo do Pico da Vara em S. Miguel nos Açores, no Buçaco ou no Gerês em Portugal Continental ou algures perdida num sítio húmido no Rio Grande do Sul no Brasil. Aí, no mar de nuvens, os apotécios vermelhos, qual flor que se afirma no cinzento da bruma, denunciam a existência de uma espécie frágil.
A humidade que nos desconforta e o frio que nos ouriça, é estimulo para a fazer crescer. Cresce pouco. Talvez um par de centímetros num par de anos.
Faz parte das ilhas de bruma açorianas, escondida quase sempre dos olhares que buscam a imponência dos vulcões.
Quando a natureza borda como as gentes das ilhas, produz Cladonias azoricas, porque sabe que estas são habilidosas.
Os ilhéus sentem a terra de forma diferente, por isso se juntam para crescer e sentir. As Cladonias azoricas, convivem com as Cladonias macaronesicas dos Açores, Madeira e Canárias e teimam ser ilhéus, por sorte, por nascimento, por geneologia.
Se lhe oferecessem Cladonias macilentas, criadas na laurissilva Madeirense, nas Lezírias Continentais ou na Mata Atlântica Brasileira, verificaria como são exóticas: apotécios vermelho sangue e podécios verde pálidos granulados.
A Natureza deu-lhes frutos sem forma própria, demonstrando que a ausência de simetria, também pode produzir beleza.
Um ramo de Cladonias phyllophoras para a Lua dos Açores colhidas no Pico Alto de Santa Maria e um ramo de Cladonias ramulosas, colhidas no Porto Moniz, para o Soslayo.
Um ramo de Cladonias furcata cultivadas nas margem do rio Guaiba, para a Ruth, e um ramo de Cladonias chlorophaeas, colhidas nos matos de São João do Pico para a fsilva.
Uma Cladonia belliflora que Tá difícil de encontrar, para um bloguista sempre apaixonado e uma cladonia cervicornis, provavelmente presente em Serra d'Aire, para a minha amiga Teresa Faria.
Uma cladonia rangiferina sobre fundo azul para a MAAT que arde no azul e um de cladonias fimbriatas, para a Rute Umbelina.
Um ramalhete de cladonias conitas, para o Nuno Guronsan e um ramalhete de Cladonias stygias, em troca de um Miosótis Marítimo, com a Eva Vidal.
47 Comments:
eu ficaria "félix" se alguém me oferecesse um ramo de Cladonias...fico a aguardar! eh!eh!eh!
Dr. Félix: As suas Cladonias Cocciferas,Floerkeanas, Coniocraeas, Azoricas....e outras são muito bonitas... ao olhar, mas quem nunca dormitou numa sesta à sombra de Quercus Suber ou de uma Quercus Ilex, nas altas temperaturas do Verão Alentejano, não sabe o que perde!!! Conhece a frase “deitado à sombra de um chaparro”? É isso mesmo!
Para além do prazer e da sensação de frescura que nos possibilita, são áreas extensivas que albergam uma das mais ricas diversidades biológicas do nosso país. Desculpe mas tinha que puxar um pouquinho "a brasa à minha ssardinha".
Ana Isabel
Sinto-me muito lisonjeada com esse ramalhete, obrigada!
Mas...Dr. Félix! Essas são mesmo do Alentejo?
Sem cor, tão tristinhas... pensando bem, não ficam nada mal com com os cantares dos compadres alentejanos, com a dolência e a melancolia que lhes é caracteriistica, com o calor do Verão e o frio gélido do Inverno....quando lá for, vou procurar, certamente, essas Cladonias Cariosas!!
Ana Isabel
A proeza poética que sobressai da descrição das cladonias far-nos-á olhá-las de outro modo.
Para além dos conhecimentos transmitidos é a forma como o fazes. Uma delícia de escrita. Boas fotos a ilustrarem os textos. Um dos temas que mais me fascina no www.thousandimages.com é Macro. Eu fico sempre com a ideia de que nunca conseguirei fazer uma foto de uma coisinha assim pequenina. Fiz uma de um cogumelo e embandeirei em arco...
É bom vir aqui Desambientado.
Beijos
Fátima.
Encomendei-lhe um ramo de Cladonias stellaris, colhidas no cimo da Serra de Santa Bárbara na ilha Terceira, como forma de lhe agradecer o comentário.
Lua dos Açores.
As fotos não são da minha autoria, e aquelas que eu sou capaz de tirar, ficam muito piores do que as tuas. Já antes tinha espreitado as tuas fotos e acho-as lindissimas.
Encomendei-te um ramo de Cladonia phyllophoras colhidas no cimo do Pico Alto em Santa Maria.
Soslayo.
Muito obrigado pelo elogio.
Quanto a plantas, gostaria de saber muito mais, por isso faço um pequeno esforço de aprender qualquer coisinha todos os dias.
Encomendei para te oferecer um ramo de Cladonias ramulosas, colhidas no Porto Moniz.
Ruth.
Como o longe se faz perto e do infinitamente pequeno se pode construir o infinitamente grande.
Longe de mim, imaginar receber um elogio na doce semântica Brasileira.
Acredito que se amarmos o pequeno, aparentemente desprezável, preservaremos sem qualquer restrição o que a natureza nos põe diante dos olhos.
Encomendei-te um ramo de Cladonias furcatas, colhidas nas margens do Rio Guaiba, onde os imigrantes açorianos fundaram em 1742 a vossa/nossa cidade.
Aqui, encontramos sempre algo de refrescante, de sabedoria, de esperança, de vida...
Muito obrigada! É um cavalheiro! Aceito grata! Vou pensar em qq coisa tb para o Sr. Dr.!
Bitta.
Não tens nada que agradecer.
fsilva.
Obrigado pela bonita observação.
Cara Drª frosado.
Foi um prazer.
Inspirador, este micromundo!...
Felix
Sinto-me completamente ignorante em Cladonias e não sei onde colhê-las. Nome vulgar qual é ou quais são?
Será que também existem na Serra de Aire, no Ribatejo? Estou a pensar procurá-las e esse é um dos bons locais que tenho para o fazer.
Teresa
Tá Difícil.
Impressionante, tavez não, sim o Amor......
Olá Teresa.
Cladónias são liquenes popularmente chamados de musgos. Mas musgos são outra coisa... Os líquenes são uma associação simbiótica entre uma alga e um fungo.
Existem no solo, sobre as rochas, nos troncos das árvores... São excelentes bioindicadores de poluição atmosférica. Claro que depende da espécie que esteja presente nesse habitat.
A existência de cladonias num determinado local quer dizer que a qualidade do ar, em termos de dióxido de enxofre, é boa, ou seja, a concentração dessa substância no ar é reduzida.
Em Serra d'Aires encontras cladonias de certeza.
Não te esqueças que a sua dimensão ronda, no máximo uns 5 cm.
Ah! afinal já sei o que são mas conhecia apenas pelo nome genérico de líquenes. Claro que não preciso da Serra de d'Aire pois até as encontro aqui nas árvores junto à Avenida do Brasil e também conheço uns alunos da Escola D. Dinis aqui em Lisboa que fizeram um projecto sobre essa pesquisa e a ligação com a poluição atmosférica. Ainda fui à página da escola em http://www.esec-d-dinis-lsb.rcts.pt/p_comenius.htm ver o que existia sobre isso mas só há referência num parágrafo muito breve que remete para o site do projecto mas que infelizmente não está a funcionar.
As aprendizagens que nós fazemos aqui!!
Teresa
Teresa.
Duvido que encontres cladonias na Avenida do Brasil. Encintras certamente outros líquenes, mas não cladonaceas. As cladonias são muito sensiveis à poluição atmosférica. A encontrá-las em Lisboa será, o mais provavel, no Jardim Botânico, ou na Tapada da Ajuda, fora daí, não me parece, terás mesmo que ir para a Serra d?Aires para ver cladónias.
Encontras em Lisboa Xanthorias, Hyperphyscias, Physcias, Parmelias, etc.
Alguns destes também são bioindicadores de poluição atmosférica.
Teresa.
Acabei agora mesmo de ver a página que citas, e de facto não é dito nada. Há uma página da FCL, da Biologia, elaborada pelo Figueira, que aborda muito bem essa questão.
Venho agradecer o "ramalhete" de cladonias chlorophaeas.
Fico sempre contente com a existência delas, significa que o "ar" do Pico não está ainda muito poluído.
Fsilva.
Queria dedicar-lhe outro ramalhete,o de cladonias vulcanicas, que existem nos Açores, que se conheça até agora, apenas na Mata de São João, mas não tinha a foto disponível.
Não tem nada que agradecer. A sua presença aqui a discutir questões de cidadania e ambiente é que tem que ser agradecida.
maravilhoso este modo de folhear as "estrelas" da Terra... e de as oferecer em Alma...aos seres...
lindo!
obrigada,
***maat
Felix
Mais uma vez agradeço os teus esclarecimentos.
Mas existem outras espécies de líquenes que indicam exactamente o contrário ou seja poluição. O problema é que os meus conhecimentos de botânica já lá vão há muito tempo e não distingo obviamente os diferentes tipos e respectiva relação com a poluição
Bem, chega de especulação e ignorância eu vou estudar a página do Figueira e não me irei esquecer das cladónias sempre que quiser um local para respirar
Teresa
Nunca pensei ficar tão feliz com um punhado de cladónias stellaris que nem sabia existirem na minha terra.
Digamos que este ternurento, mas majestoso gesto simbólico de oferecer cladónias tocou bem fundo nos nossos corações.
Estou estupefacta e verdadeiramente encantada com o meu presente.
Muito obrigada
estupefacta, melhor , encantada com a minha prenda
Peço mil perdões, mas as palavras após o "Muito Obrigada" do meu comentário não deveriam lá estar, embora nunca sejam demais as palavras para expressar o que senti.
Maat.
Encomendei-lhe um ramalhete de cladonias rangiferinas sobre fundo azul. Preciso de algum tempo para as preparar.
Obrigado pelo comentário.
Teresa.
A posição de um liquene numa árvore poderá indicar se existe mais ou menos poluição, mas todos eles morrem com a poluição. Vou-te dar alguns exemplos de quantificação:
-Local sem liquenes (deserto liquénico)mais do 170 microgramas por metro cúbico (à pressão e temperatura normal) de dióxido de enxofre.
-Local com a presença da Flavoparmelia caperata, possui no máximo, 50 microgramas por metro cúbico (à pressão e temperatura normal) de dióxido de enxofre.
-Local com a Pannaria rubiginosa, ar muito puro.
Vou-te mandar por email um protocolo de aula prática sobre o assunto, que talvez te interesse.
...no meio da correria de lisboa é sempre 1 prazer visitar este blog! aqui, pequenas surpresas como estes pequenos ramos enchem-nos os dias d cor!
obrigada professor!
ps: vou tentar arranjar tempo para ir ao jardim botânico ou passear na tapada da ajuda...e ficar 1 pouco + perto deste micro-mundo!
Fátima.
O objectivo deste post era fazer-nos olhar os aspectos mais insignificantes do mundo que nos rodeia, e até certo ponto, querer afirmar o quanto ignorantes seremos se não pararmos, pensarmos e agirmos racionalmente. A beleza do mundo, do meu ponto de vista, reside na capacidade que temos de o interiorizarmos, racionalizarmos ou de o "afectivarmos".
Quando subires a Santa Bárbara, certamente verás outras belezas, para além daquelas que se impõe, pela grandeza do espaço.
Que grato é saber que se conseguiu encantar alguém.
Rute.
Obrigado pelo comentário. Que bom, estando distante que possa contribuir para colorir um pouco o mundo de todos nós.
Pensei que estavas em Setúbal e não em Lisboa.
Encomendei-te um ramalhete de cladonisa fimbriatas, para que não te esqueças dos Açores.
Inspiradíssimo, como já é costume. De facto, temos tão perto de nós universos tão fascinantes e ao mesmo tempo tão esquecidos...
Felix
Mais uma vez não consegui resistir a entrar no teu blog para me encantar com as tuas cladónias.
Agradeço a oferta da tua cladonia cervicornis que irei guardar num cantinho da Serra de Aire. Será certamente a melhor maneira de aprender de vez e jamais me esquecer das cladónias.
A Serra de Aire (sem s) faz parte do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. A designação de "Parque Natural" já quase só existe no papel. Muita coisa tem sido dizimada pelos incêndios e por outros atentados (pedreiras, autoestrada Lisboa-Porto, desleixo e lixo aos montes).
Apesar disso, ainda é o sítio para onde, sempre que posso, fujo aos fins de semana. Agora percebo porquê. Além de ser o local onde nasci, ainda lá restam uns restos de cladónias que me purificam e relaxam. Em http://www.jf-pedrogao.pt/turismo_locais.php encontras algumas fotos da Serra e da aldeia. Apesar de estar a 100km de Lisboa é ainda um bocadinho do Portugal profundo.
Teresa
...impossível esquecer-me dos açores, assim como das suas gentes que sempre tão bem m receberam! obrigada pelo ramo...
Obrigado Nuno por teres saído de um Espaço cinzento, para este micromundo.
Obrigado pela consideração
Teresa.
Obrigado pela correcção do s "Foi um aire que lhe deu" e já desapareceu.
Enviei-te por mail o protocolo que referia.
Rute.
Nõ tens nada que agradecer. A imagem já lá foi colocada.
tão lindo...
vou estar uns tempos fora do "arde o azul" mas levo-as comigo.
vou lá colocá-las até chegar.
***maat
Maat.
Que dom o teu! Parece que tudo em que tocas rebrilha.
Fiquei impressionado e imensamente agradecido com e pelo teu último post.
Quem agradece, sou Eu.
Troco uma Cladónia por um Miosótis marítimo da falésia costeira do Raminho, aceita? Um olhar mais atento e não se consegue resistir... em ficar longos momentos a deleitarmo-nos com a sua existência.
Olá Eva.
Muito gosto em ver-te por aqui. Já estavamos com saudades.
Que tal foi a Viagem? Pelas focos ficamos a saber o fabuloso que deve ter sido. Obrigado por tê-las partilhado connosco.
Claro que aceito a troca. Mas só mais daqui a bocado, quanto a rede estiver mais rápida, é que poderei fazer a troca.
cada vez mais bonito, realmente, a beleza está no olhar com que se olha (isto está um bocado pleonástico, mas é mesmo assim).
frosado.
A beleza também está do lado de quem a constrói.
Aqui, no Desambientado, somos todos nós.
Encantada com o ramalhete de Cladonias stygias. Desejo que todos nós sejamos capazes de criar um jardim de flores nas nossas vidas, nas nossas escolas, nos lugares por onde passarmos e que elas floresçam durante todo o ano de 2006.
Eva.
Tudo vale a pena quando a alma no é pequena (Fernando Pessoa).
Desambientado:
Félix: permite-me que brinque um pouco!
Um pouco fora d'horas
só agora me apercebi
um ramo de Cladonias Ramulosas
que vou plantar no meu jardim.
Em princípio o Ramulosas
nomes que vêm do latim!?
fiquei como de pré-aviso
que de ramelas se tratasse
mas o dicionário não me disse assim.
As Cladonia Ramulosas
colhidas no Porto Moniz
devem ser muito vistosas
porque a beleza é garbosa
venha o ramo que pertence a mim.
Muito obrigado Félix. E desculpa a brincadeira. As fotos e as legendas que nelas colocaste, estão realmente um primor, tanto na beleza das fotos quanto na beleza das legendas. Um abraço.
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