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2005-12-17

E..... se encalhássemos no Paraíso?

Imaginem que a curta viagem que é a vida, não é feita a bordo do navio da razão que cruzaria os mares do conhecimento.
Preparavamo-nos com tudo o que julgávamos necessário para essa viagem. É certo que uns sairiam melhor preparados do que os outros, mas previa-se que no fim, consoante a rota seguida por cada uma das embarcações, o conhecimento adquirido não fosse directamente dependente da qualidade da preparação inicial.
Numa grande viagem, nem tudo é previsível. O céu altera-se, o mar enfurece-se e a encalhação é possível.
Por vezes encalhamos no Paraíso,
outras no inferno.
Por vezes transformamos o Paraíso no Inferno, mas raramente o Inferno no Paraíso.
E...se encalhássemos no Paraíso? Que carga levaríamos?
A carga mais preciosa seria a nossa cultura e o conhecimento adquirido no mar da sabedoria. Com toda ela reconstruiríamos o resto da nossa vida.
O Paraíso, poderia ser uma ilha vulcânica totalmente coberta de faias a que, sem qualquer equívoco chamariamos de Faial.
Para a encalhação, o vento e o mar empurrariam o navio em que seguíamos, que poderíamos chamar de “CP Valour” para uma baía, provavelmente junto a uma ribeira a que poderíamos dar o nome de Ribeira das Cabras, por ser agreste e ao mesmo tempo selvagem.
A hora da verdade chegaria, e começaríamos a retirar a carga para sobreviver nesse local.

-1200 toneladas de petróleo, para não faltar energia no local do "encalhamento",
-8 toneladas de fosfato de trifenil (utilizado na fabricação de filmes fotográficos) para registar todos os momentos importantes.
-6 toneladas de tintas, para colorir o ambiente,
-19 toneladas de substâncias oxidantes, para combate fitoquímico, ou outros do género, a plantas invasoras.
Em circunstâncias tais, começaríamos certamente, tal como os cães, a marcar território.
Despejavamos óleo sobre o local de desembarque.
Depois, coloríamos de negro a praia, desembarcávamos.....
Se o Paraíso fosse povoado, e os indígenas tivessem uma sensibilidade estética diferente da nossa, haveriam eles de limpar a Praia, porque argumentaríamos que se tratou de um fatídico acidente.
Ninguém em seu perfeito juízo, defenderia que um trágico acidente era intolerável. Por outro lado à volta, no imenso mar, as implicações ambientais da nossa presença seriam quase imperceptíveis.
Parece que, o Parlamento Europeu, em tempos, antes do nosso encalhamento no Paraíso, tinha defendido que a comunidade internacional necessitaria de agir de imediato de modo a estabelecer regras que permitissem minimizar os riscos de acidente e os impactos ambientais das embarcações comerciais. Certamente não passou de uma intenção.
O que sabemos, é que é possível encalhar em qualquer recanto do Paraíso, com qualquer carga, em qualquer altura.
Depois de navegarmos no mesmo mar, de com prestígio, ou em francês, Prestige, termos naufragado, quase em Finisterra, chegamos de novo a outro Paraíso, com a carga que se crê adequada. Esquecemo-nos apenas da bomba atómica.
Entende-se assim facilmente que para navegar no mar do conhecimento, nem sempre a experiência interessa, nem sempre o mau tempo justifica a paragem. A vida faz-se ao rtimo que queremos que aconteça.
Somos capazes de navegar, avaliando o risco? Ou o risco não é mensurável?
A acumulação de substâncias perigosas numa mesma embarcação fará diminuir o risco?
Por vezes naufragaremos no Paraíso, outras, talvez no Inferno.
O que levarias contigo se encalhasses no Paraíso?

Félix Rodrigues

22 Comments:

At 21:53, Blogger Maria Silva said...

É Grave este inferno durar mais de uma semana, com perspectivas das condições atmosféricas poderem torná-lo mais dantesco.

AS fotos não são minhas são retiradas da net, várias pessoas tem usado, por isso esteja à vontade, até a "FotoJovial" já está comercializando como cartão de Boas Festas

 
At 22:07, Blogger Fátima Silva said...

É uma mania aquela que temos ao pensarmos que podemos controlar tudo, mesmo o incontrolável. Com efeito melhor conhecimento não é sinónimo de melhores opções e de qualidade de vida, mas o poder do conhecimento é com toda a certeza sinónimo de mais responsabilidade.
Este retrato fiel que aqui é feito, usando as tragédias a que assistimos é mais uma vez um alerta para a nossa pouca sensibilidade e desejo desmedido por um conforto virtual,irreflectido e com consequêcias quase sempre desastrosas.
Os nossos estilos de vida têm de ser mais contidos para que menos barcos cruzem os oceanos para satisfazer as nossas necessidades, muitas vezes efémeras, evitando estes ou outros tipos de desastres.
Talvez o slogan:
"Seja seu amigo e o seu amigo agradece-lhe"

As viagens são sempre muito imprevisíveis. Pensamos que nos Preparamos para elas, mas nem nos damos conta do risco que corremos.

Gostei muito do post é muito criativo e encerra em si uma mensagem muito poderosa. Às questões devemos responder com muita honestidade. Talvez não gostemos da resposta, mas precisamos de lutar e abdicar se queremos continuar a ter algum paraíso algures.

 
At 23:14, Blogger Desambientado said...

fsilva.

Obrigado pela visita e pela informação.
Este triste acidente e o tempo que demora, vem-nos demonstrar mais uma vez que não estamos preparados para lidar com situações destas. Portugal, quer queiramos quer não é um País pequeno, mas também não sei se seremos nós que teremos a obrigação de andar a cuidar dos desastres do mundo inteiro. Há que lutar para que se cumprem regras mínimas de segurança no mar. Que não saima dos portos, os barcos que tem cargas perigosas ou poluentes. Temos o dever de acorrer a qualquer naufrago, mas também temos o direito de lhes exigir que sejam cuidadosos.
Apesar de haver suficiente fosfato de trifenil a bordo no CP Valour, para fabricar milhares de películas fotográficas, pelos vistos ainda há pessoas interessadas em utilizar o que tem em stock, para uns postais de Natal.
Afinal o paríso temporário de uns fotógrafos, é o inferno de uma população.

 
At 23:26, Blogger Desambientado said...

Fátima Silva.
Apesar de poder parecer que a resposta a fsilva é a mesma, evidentemente que não é. Há pontos que poderiam ser comuns.
Queria de facto acentuar neste post, não só o aspecto do acidente em si, ecologicamente preocupante, mas alguns aspectos humanos que resultam de uma insensatez muitocomum, à qual também não fujo. Quantas vezes, queremos levar para a mesa, nas únicas duas mãos que possuimos, tudo o que desejámos e acabamos com tudo partido no meio do chão?
Quantas vezes, com apenas mais uma cerveja, se estampam pessoas contra casas e contra muros?
Porque razão temos tantas dificuldades em aprender com os erros dos outros?
Há viagens imprevisíveis, outras nem tanto.É pena que só percebemos com o desastre, que as desastrosas também eram previsíveis.

Mais uma vez obrigado pela sua partilha e análise que tenta sempre acrescentar um pouco mais aquilo que se disse.
São sem dúvida os vossos comentários que muito enriquecem este blog.

 
At 22:45, Anonymous Anónimo said...

Não querendo brincar com a desgraça alheia, mas penso que a pergunta tinha a ver com aquilo que não somos capazes de abandonar.
Para o Paraíso não seria capaz de não levar:
-Giletes descartáveis.
-Espuma de barbear e after-shave (depois o que poderia fazer com as latas. Enterrá-las na areia?).
-No mínimo uma MP3. Claro, e pilhas a acompanhar: um carregamento de pilhas.
-Poder-se-ia levar computador?

Há um conjunto de coisas que se não levasse comigo, não teria qualquer interesse em ir ao Paraíso.

Gostei do post.

 
At 10:31, Blogger melena said...

Nao percebi a primeira parte do seu comentário ao meu post.
«Até quando nos manteremos calados e a limpar todos os acidentes que ocorrem no Atlântico?»
Com certeza não quer dizer que não devemos limpar os acidentes.
Concordo plenamente com «Até quando deixaremos que se cruzem estes nossos mares, em condições climatéricas de risco?»
Uma das razões do meu post é alertar para que o nosso mar tem de ser protegido efectivamente, através de patrulhamento eficaz.
Pois o mar é só um e não o podemos continuar a poluir.
Gostei do titulo do seu post.

 
At 11:16, Blogger Desambientado said...

melena.

A primeira parte do meu comentário, não tem nada a ver com o não limpar. Claro que devemos limpar, mas prende-se mais com a sua observação "E isso é tanto mais grave nos Açores, pois o mar é a nossa definição e principal característica; somos ilhéus.".
Ora o que queria contrapor com a pergunta, é mais ou menos o seguinte:
Terão os Açores alguma vez capacidade de controlar o tráfego marítimo de todos os grandes países? Esse tráfego é intenso. Em caso de catástrofe temos ou não obrigação moral de os acolher? O que ganhamos com isso?
O que sei é que a maioria dos armadores entra em falência ou desaparece após o acidente.
Afinal quem limpa?
Afinal quem fica com os prejuízos?
O que queria dizer é que de algum modo a obrigação está do lado dos Países que colhem os lucros das transacções, o que envia a carga, o que a recebe e o que a transporta.
Com fiscalização marítima ou não, não creio que sejamos capazes de evitar esse tipo de acidentes. Era essa a minha principal discordância.
Há uma cópia deste comentário, no outro blog.

 
At 14:32, Blogger Desambientado said...

Anónimo.

O que é uma MP3?

 
At 22:59, Blogger Luzia Cordeiro Rodrigues * luzia.blog@gmail.com* said...

Nem sei o que dizer.
Andamos nós a trabalhar com as crianças, a tentar incutir-lhes valores em prol do ambiente, para elas assistirem a este desrespeito pelo nosso património natural.
É lamentável.

 
At 09:17, Blogger Desambientado said...

Olá Luzia.

Compreendo a tua decepção, depois do esforço que andaste a fazer este período inteiro para sensibilizar as tuas crianças para os graves problemas da poluição marinha.
Como que para terminar em grande, a tua estratégia, é culminada com um acidente deste calibre. Há que aproveitar pedagogicamente este facto e discutir, isso é que não sei como, com os teus meninos, esta problemática dos riscos. Ou não concordas comigo?

 
At 10:10, Blogger melena said...

Os Açores têm de ter capacidade para controlar a sua ZEE. Terá custos financeiros enormes. Pois terá. Mas o custo da não fiscalização é muito maior.
E não é só no caso de acidentes, mas da própira pesca.
E sim, temos obrigação moral de «acolher» as catástrofes.
Claro que tem (deveria ter) 1 contrapeso a obrigação do dono do navio em indemnizar o Estado em que ocorreu o acidente.
Segundo ouvi no caso do «CP Valour» já foram acionadas as garantias bancárias.

 
At 14:30, Blogger Desambientado said...

Caro Emanuel (Melena).

Relativamente à fiscalização das águas territoriais,creio que estamos de acordo quanto aos benefícios que traria tal fiscalização. O grande problema está no facto de apenas conhecermos os custos dessa fiscalização e não conhecermos devidamente os benefícios.
Sabe-se que existem apenas três estações de radar em Portugal, que vigiam o espaço aéreo e as águas territoriais da plataforma continental.
Estava em fase de instalação um radar para a Região da Madeira e seriam necessários três para fazer a cobertura total da ZEE Açoriana.
O investimento necessário para fiscalizar as água territoriais açorianas, seria praticamente idêntico ao que foi feito, desde sempre até agora, para o todo nacional.
Acha que alguma vez a ZEE dos Açores terá fiscalização?
Na teoria deveria haver fiscalização, na prática não prevejo que a solução seja rápida. Neste período de contenção financeira, nem o que estava programado anteriormente para os Açores avançará.
Creio que não vale a pena entrar pelo campo da política de defesa, porque certamente teríamos dificuldade em sair.
Quanto à pesca, claro que a fiscalização seria importante, mas até agora só conseguimos defender na Europa metade das nossas águas territoriais.
Que planos de salvaguarda e protecção fomos capazes de apresentar e defender na Europa?
Também não vale a pena entrarmos por aqui porque a discussão seria demasiado larga.
Quanto à garantias bancárias, oxalá que estejam mesmo asseguradas. Será que parte delas servirão para pagar a perda de rendimento dos nossos pescadores? Será que parte desse dinheiro servirá para apostar em meios de defesa contra a poluição química?

O meu ponto de vista centra-se muito facto de achar que eu, como qualquer um de nós, tem que ter orgulho no seu País e na sua Região, e discutir amplamente as questões, de forma a conseguir as melhores soluções para os nossos problemas.
A desresponsabilização pessoal de tudo, é comum em Portugal. Ouvir-se dizer que Portugal é uma tristeza, é muito comum; explicar como se torna num paraíso com o apoio de todos é que é mais difícil.

 
At 20:45, Blogger Luzia Cordeiro Rodrigues * luzia.blog@gmail.com* said...

Acho que tem razão. Vou aproveitar este acidente para alertar os alunos para as suas consequências.

 
At 20:53, Blogger Desambientado said...

Luzia.
A página do DOP, tem muita informação que te poderá ser útil nas aulas com os teus meninos.
Por outro lado, estando eles já habituados à Internet, terás certamente a vida facilitada.
O computador que eles usam é o teu PC, ou a tua escola tem alguns computadores?

 
At 00:59, Blogger Fátima Silva said...

Espero que não se importe, mas aproveitei algumas alterações que fez à configuração do seu blog e adaptei-as ao meu.
Os blogs tornam-se mais dinâmicos, completos, arejados...
Gostei imenso do citador e, pois... já o tenho.

Muito obrigada pelas dicas

 
At 09:56, Blogger Desambientado said...

Olá Fátima.
Concordo consigo, os blogs querem-se arejados. ...É que há para aí alguns, que não digo de quem, que estão a ficar cheios de mofo. Há outros que já entraram em putrefacção.

 
At 11:03, Blogger melena said...

Os benefícios da fiscalização são inquantificáveis, tal como o é a saúde do nosso ambiente.
Não sei se algum dia haverá fiscalização capaz na ZEE Açores.
Sei é que espero que haja.
Como sempre, a contenção das despesas é relativa.
No que respeita às Forças Armadas, pela nossa situação geo-estratégica o ramo que mais necessita de ser reforçado é o da Marinha. Por isso não sou contra a compra de submarinos.
Concordo como o que disse acerca da nossa defesa escassa em termos de pesca face a UE.
Quanto às garantias bancárias, que só por alto ouvi, parece que são para pagar as despesas com as operações de limpeza e nada mais, infelizmente.
E não poderia estar mais de acordo com o referido no seu ultimo paragrafo acerca da discussão ampla e da responsabilização de todos.

Não deixei de ler os comentários de fatima silva e sua resposta acerca de «citador» e de arejar os blogs. Como recém chegado qualquer dica acerca de técnica para blog é bem vinda, pois a minha área não é propriamente a net.

Cumprimentos

 
At 13:44, Blogger Desambientado said...

Caro Emanuel (Melena).

Pois é, os benefícios seriam inquantificáveis, mas o problema é que na economia de mercado em que vivemos tudo tem um preço, até a vida humana.
Se antes achavamos que a vida humana tinum valor incalculável, agora, na nossa sociedade, até essa tem um valor de mercado, vale o que está tabelado nas várias agências de seguros. O ambiente, a biodiversidade e os valores tem sido avaliados pela mesma bitola.

Quanto à utilização do Citador, que diáriamente vai colocando, uma frase, uma notícia ou um comentário, no blog, basta clicar sobre ele e copiar o ficheiro html.
Se tiver alguma dúvida como se faz, basta perguntar.

 
At 18:51, Blogger Ana Isabel Godinho said...

O mar é a alegoria da nossa existência..... mar é o princípio de todas as coisas... tudo vem da água e tudo a ela regressa... a água do mar na realidade é transparente, quando olhamos para ele parece azul, verde ou até cinzento...
A cor muda de acordo com a cor do céu, que nele se reflecte, depende também da cor da terra ou das algas transportadas pelas suas águas. A partir de uma certa profundidade, as cores começam a desaparecer, a primeira cor a desaparecer é o vermelho, aos quinze metros desaparece o amarelo e ao alcançarmos um determinado ponto só se verá o azul....escuro e calmo!
Quem tem o direito de poluir ou o dever de proteger a alegoria da nossa existência?

Ana Isabel

 
At 20:16, Blogger Desambientado said...

Ana Isabel.

Lindo.

Perante essa visão poética do mar,

perante essa explicação científica da luz,

nada é mais certo,

que tudo o que lhe tira poesia,

que tudo o que lhe tira fulgor,

é crime..Sim Senhor.

 
At 10:34, Blogger melena said...

Para a economia tudo tem um preço, claro.
Mas não devia.
Há valores e bens que uma vez perdidos não se recuperam.
Devemos lutar por esses valores humanistas.
E alertar para o perigo da visão economicista.

Quanto ao valor atribuido à vida humana, por ex pelas seguradoras, vale tal como para as indemnizações judiciais: como minima compensação pela dor da perda da vida aos familiares. Não é o preço da vida humana.

Um pouco lateral ao assunto que temos discutido, o artigo do eurodeputado Paulo Casaca, no Açoriano Oriental de dia 21, fala acerca da ZEE Açores no contexto europeu.

Cumprimentos

Aproveito para lhe desejar boas festas.

 
At 10:43, Blogger Desambientado said...

Melena.

Concordo consigo.

Não li o artigo do Eurodeputado Paulo Casaca, espero que não seja mais uma posição tardia.

Agradeço e retribuo o Voto de Boas Festas.

Cumprimentos:

Félix Rodriguex

 

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